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Parasita relacionado à leishmaniose é identificado em Sergipe e deixa Bahia em alerta

A identificação de um parasita que infectou mais de 100 pessoas no Nordeste, sobretudo em Sergipe, já deixa em atenção a rede hospitalar de referência da Bahia para casos sugestivos relacionados à leishmaniose. O micro-organismo, identificado pela primeira vez há dez anos, provoca uma doença que atinge o baço, o fígado e causa feridas na pele, podendo provocar sangramentos em casos mais graves. Ele vem sendo estudado por pesquisadores de três universidades do país.

Para o pesquisador Roque Pacheco Almeida, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), um dos responsáveis pela identificação do parasita em Sergipe, a proximidade geográfica do estado vizinho com a Bahia é indicada como uma premissa de observação, já que existe a possibilidade de que o micro-organismo possa se disseminar aqui. Almeida chama a atenção para o trânsito de pacientes baianos no Hospital Universitário da UFS (HU), onde o parasita foi descoberto.

Segundo ele, moradores da região norte da Bahia, principalmente de cidades como Olindina, Cipó e Inhambupe, costumam ser atendidos na unidade. Um caso suspeito da doença foi registrado e um paciente baiano, afirma ele. A Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) informou que não há registros, até o momento, de casos no estado. O Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (Cievs) solicitou à rede hospitalar de referência ocorrências de entrada de casos sugestivos relacionados à leishmaniose. A pasta aguarda por uma resposta.

Descoberta
As investigações iniciais a respeito do micro-organismo foram publicadas nesta segunda-feira (30) na revista científica Emerging, por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade de São Paulo (USP-Ribeirão Preto) e da UFS. De acordo com o professor Roque Pacheco Almeida, um paciente de 60 anos que morreu em 2011 continha o parasita no organismo.

Ele recebeu tratamento para calazar, mas não reagiu ao tratamento usual – essa é uma das característica do parasita. “Como nós tratávamos o calazar [leishmaniose visceral], pensávamos que tudo era isso, mas, nesse paciente, a doença evoluiu de forma atípica e observamos que a pele dele estava repleta de parasitas”, recorda.

A partir daí, o professor de Medicina intuiu que se tratava de algo diferente e iniciou uma colaboração com a UFSCar e a USP-Ribeirão Preto para estudar o genoma do parasita. Almeida explica que o novo parasita é parecido com um que costuma se hospedar em mosquitos do tipo Culex, a muriçoca, vetor da leishmaniose. Os pesquisadores analisam se esse ‘parente’ tem infectado o pernilongo comum.

Descobriu-se até o momento que, nos testes com camundongos, estes animais reproduziram as mesmas manifestações clínicas do paciente que faleceu em 2011. Resta confirmar se uma nova doença infecciosa está surgindo. De acordo com o estudo, a leishmaniose visceral, ou calazar, é o tipo mais grave da doença e o Brasil responde por mais de 90% dos casos relatados anualmente na América Latina.

Professor do Departamento de Medicina da UFS, Almeida diz que, ultimamente tem visto casos graves de calazar que exigem internamento em UTI e que não respondem aos tratamentos. Mas, para ele, ainda não dá para dizer que estes são casos de contaminação pelo parasita. “Atualmente, não temos ferramentas para dizer imediatamente. A gente ainda não consegue fazer isso direto no paciente. Quando o recebemos, temos tratado como calazar e só depois teremos essa confirmação se era ou não”, explica Almeida.

Hoje, o Brasil ministra dois tipos de medicamentos contra a leishmaniose visceral: o Glucantime – em pacientes com mais de 6 meses e menos de 60 anos – e o Ambisome, em menores de 6 meses e maiores de 60 anos. Segundo o estudo, são poucos os medicamentos para a leishmaniose. E, como o novo parasita não reage aos tratamentos, isso pode agravar o controle da doença. Por isso, os pesquisadores chamam a atenção no documento para a urgência de estudos de novos fármacos.

Segundo Almeida, as modificações da vida moderna podem vir interferindo nestes últimos índices:“O crescimento das cidades tem provocado a invasão dos ambientes naturais dos mosquitos e eles se alimentam muito do cão, que é o animal de estimação, que adquire fácil a doença e não responde ao tratamento. Como nosso clima também tem piorado, isso interfere na propagação do mosquito, que gosta das nossas temperaturas tropicais”, explica o professor.
Na Bahia, a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) informou que não há registros da doença.

O Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) de Sergipe informou à Sesab que os dados divulgados pelo estudo publicado são de uma série histórica de 2011 até 2019 e que Sergipe não está em surto. Ainda conforme o órgão, acredita-se que essa doença seja decorrente de um novo tipo de leishmaniose ou de uma mutação do vetor transmissor da doença e que não há motivo para alarme ou pânico, considerando o perfil epidemiológico atual de Sergipe.

A Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS) também informou que na capital baiana não há nenhum caso registrado de calazar em animais ou humanos. De acordo com a bióloga Eliaci Costa, subgerente do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), atualmente, quando algum cidadão notifica um caso suspeito, o CCZ vai até o local, faz um teste rápido para ver se é reagente e envia amostra para o Lacen estadual. As informações são do Correio 24h.

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