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Comunidades de Morro do Chapéu sofrem com intoxicação por agrotóxico vindo de polos agrícolas da região de Jacobina

A comunidade quilombola ‘Velame’, em Morro do Chapéu, município da Chapada Diamantina, denuncia contaminação pelos agrotóxicos usados nas plantações que as cercam. Depois de uma fiscalização, ficou constatado um “surto” na localidade. O quilombo está próximo da região de Jacobina, uma das principais produtoras agrícolas da Bahia, onde também foi identificado “excesso de agrotóxico”. O veneno pode chegar até em Salvador, conforme informações.

Na matéria publicada pelo site Correio 24h, no último sábado (29), foi contado a situação de famílias que têm enfrentado problemas com o uso indiscriminado de agrotóxicos. Mãe e filho pertencentes ao quilombo comem o que se produz na vizinhança, exceto a cebola e o tomate, desde que pararam num hospital com falta de ar e tosse, em abril. Não foi coronavírus. O quintal de ao menos 70 famílias de ‘Velame’, fica a menos de 500 metros das duas produtoras agrícolas vizinhas, que estão no local desde 2015.

Ela e o filho foram até o Hospital Municipal de América Dourada, cidade a 30 quilômetros de distância, naquela tarde de abril. “Passei mal e até hoje sinto”, conta. No horizonte, uma “nuvem branca”, “com cheiro forte”, força os nativos a fecharem as janelas. Os sintomas – entre os quais dores de cabeça e diarreia -, sem doença aparente, começaram a se alastrar até que um nativo soube, pela rádio, da presença de uma força-tarefa capitaneada pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) – a 44ª Fiscalização Preventina Integrada (FPI) – para fiscalizar o uso de aditivos em fazendas, em fevereiro de 2019. Decidiu chamá-los.

Os fiscais foram chamados a ‘Velame’ e constataram “irregularidades que afetam o meio ambiente e a coletividade” nas plantações vizinhas de cebola e tomate. O relatório foi divulgado em fevereiro deste ano. No mês seguinte, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab-BA) visitou a comunidade. A Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab) acompanhou. A constatação, é de que há um “surto”, crescimento atípico do número de casos de uma doença, num determinado local em um período de tempo reduzido.

Foram encontrados 18 casos de pessoas intoxicadas por agrotóxico. Numa comunidade onde moram 220 pessoas, é o equivalente a dizer que um em cada oito habitantes, em média, estivesse intoxicado. A pandemia da covid-19 atrapalhou os prazos e, até agora, os relatórios finais da Sesab e da Adab não foram concluídos. A exposição ao agrotóxico pode levar a problemas agudos – como os da mãe e filho da comunidade – e disfunções crônicas, como danos ao pulmão, ao sistema nervoso e endocrinológico, explica Vilma Santana, coordenadora do Programa Integrado da Saúde Ambiental e do Trabalhador, da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

“Os agrotóxicos são um conjunto de combinações químicas. O efeito pode passar por gerações, de má formação congênita [defeito na constituição de algum órgão ou conjunto de órgãos], porque afeta a produção hormonal”, explica Vilma. Durante a pandemia de um vírus que ataca diferentes partes do corpo, é uma preocupação a mais.

Correio24Horas

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