A Polícia Federal decidiu que vai contratar um curso de treinamento para diretores e superintendentes do órgão nos estados a fim de melhorar suas manifestações à imprensa.
Escaldada com a repercussão negativa de uma entrevista coletiva concedida na Operação Carne Fraca, em março do ano passado, que gerou uma crise no mercado internacional de carne, e de entrevistas concedidas pelo ex-diretor-geral Fernando Segovia, uma das quais contribuiu para a sua queda, a PF quer evitar ruídos e tornar a fala dos seus dirigentes mais objetiva.
O valor do contrato não foi informado. A intenção do diretor-geral, Rogério Galloro, é evitar que os dirigentes da PF deem opinião pessoal sobre investigações em andamento, o que às vezes é interpretada como posição oficial da instituição.
Segundo a PF, entrevistas coletivas com a participação de policiais federais continuarão sendo realizadas após operações especiais, mas observando algumas condições.
Isso ocorrerá quando houver necessidade de esclarecimento de dúvidas para “minimizar efeitos negativos contrários na opinião pública”; quando a operação for de fato iniciada e desencadeada pela PF, e não se apenas houver apoio a ação do Ministério Público Federal; e quando a operação for de fato relevante, evitando dar holofote a casos menores.
Conhecido como “media training”, o curso deverá submeter os diretores e superintendentes a situações hipotéticas, como uma entrevista coletiva simulada.
O presidente da ADPF (Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal), Edvandir Paiva, ponderou que o treinamento deveria ser estendido a todos os delegados desde o curso de preparação na Academia Nacional de Política. Para ele, as manifestações da PF devem ser “equilibradas e técnicas, sem avaliação sobre os investigados”.
“Desde a posse os delegados passam a ter responsabilidade de prestar esclarecimentos a quem lhe paga, que é a sociedade, que é o contribuinte. Sempre que há uma operação da PF, os delegados são procurados pela imprensa para falar, então devem estar preparados para essa prestação de contas pública, dentro o que é possível falar sobre o caso.”
CONCURSO PÚBLICO
A PF recebeu autorização do governo para abrir concurso público a fim de preencher 500 vagas de delegados (150), peritos (60), agentes (180), escrivães (80) e papiloscopistas (30). Na previsão mais otimista, o concurso seria realizado até o final do ano, com os novos policiais ganhando as ruas a partir de meados de 2019.
Será o primeiro concurso público na PF desde 2014. O órgão vive um esvaziamento de pessoal, com o número total de servidores hoje semelhante ao de 2008.
Segundo a ADPF, o número previsto no concurso é insuficiente para atender as demandas da PF, que são crescentes, especialmente pós-Lava Jato.
De 2.300 cargos de delegado previstos, segundo a entidade, apenas 1.600 estão preenchidos atualmente.