O secretário de Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, criticou, em entrevista ao Jornal da Manhã desta quarta-feira (24), a realização de “guerras de espadas” registradas na noite de terça (23), véspera de São João, em Cachoeira, cidade do recôncavo baiano, e Senhor do Bonfim, no norte do estado.
Apesar da pandemia de coronavírus e das recomendações por isolamento social, moradores das duas cidades se reuniram nas ruas e soltaram fogos.
“A guerra de espadas é por si só um ato de vandalismo. Entendo que é uma tradição baiana, mas é algo que hoje, no século XXI, compreendendo a racionalidade das complicações que isso pode trazer… Quando eu era adolescente, quando era estudante de medicina, tive a oportunidade ir a Senhor do Bonfim e ver de perto como era a guerra de espadas. É um ambiente de alto risco. A pessoa tem que ir de capacete, casaco de couro, duas calças jeans, ambiente de fumaça terrível, que irrita as vias aéreas, e nessa época de Covid isso é extremamente prejudicial para o pulmão”, disse o secretário.
O secretário de Saúde também apontou que, mesmo com 304 rodoviárias fechadas na Bahia por conta do coronavírus, muitas pessoas viajaram para o interior do estado em carros particulares. O temor é que infectados com o coronavírus possam ter transportado a doença para regiões com baixos índices.
“Fui a Jaguaquara nesta segunda-feira, dia 22, e no retorno para Salvador era impressionante a quantidade de veículos se deslocando para o interior. A pista de Salvador para Jequié, aquela região, estava lotada de carros. A despeito de ter havido um feriado antecipado, houve uma grande quantidade de pessoas se deslocando para as cidades. E deve ter havido festejos, ainda que familiares, em grande quantidade por toda a Bahia”, falou.
Vilas-Boas afirmou que a taxa de novos casos de coronavírus por dia na Bahia está atualmente em 3.5%. Porém, algumas cidades ainda estão com números altos. O secretário apontou a migração de pessoas de fora do estado e também a flexibilização do comércio como principais fatores para o descontrole.
“Temos um processo de interiorização da pandemia para municípios de pequeno e médio porte. Processo causado por migração, principalmente de São Paulo, através de ônibus clandestinos. Mas também temos municípios que adotam estratégias inadequadas, de abrir o comércio, como foi o caso de Vitória da Conquista e Feira de Santana. A história se repete. É a terceira vez que esses municípios abrem o comercio, o número de casos dispara e tem que voltar atrás e fechar de novo. Não é hora de flexibilizar atividade comercial. É preciso manter o controle por mais algumas semanas. Definimos que só haverá qualquer tipo de flexibilização quando houver uma neutralização do crescimento por 14 dias sustentados”, afirmou o secretário.
Segundo o último boletim da Secretaria de Saúde do estado (Sesab), divulgado no fim da tarde da última terça-feira, a Bahia possui 49.084 casos confirmados de coronavírus, com 1.491 mortes em decorrência da doença.