A Bahia registrou um aumento no número de casos de feminicídios nos seis primeiros meses de 2020, em comparação ao mesmo período de 2019, segundo dados do Monitor da Violência divulgados nesta terça-feira (15).
Em abril deste ano, o Monitor da Violência já tinha divulgado que o estado tinha registrado a maior quantidade de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) nos dois primeiros meses de 2020. Os CVLI incluem homicídios, feminicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte.
De acordo com a ferramenta, houve 57 feminicídios no primeiro semestre de 2020. No mesmo período do ano passado, foram 48.
icídios (57), atrás de São Paulo (88) e Minas Gerais (61).
A ferramenta também divulgou que a Bahia teve uma pequena redução no número de homicídios dolosos (incluindo os feminicídios), lesão corporal dolosa em decorrência de violência doméstica, estupro consumado e estupro de vulnerável consumado.
Nos primeiros seis meses de 2019, a Bahia registrou 5.312 casos de lesão corporal dolosa em decorrência de violência doméstica. No mesmo período, em 2020, foram 4.738.
A Bahia foi o 12° estado que mais registrou casos de estupro consumado entre janeiro e junho de 2020. Foram 201 casos, 73 a menos que o registrado no mesmo período do ano passado.
Uma das explicações para a redução do número de registro de casos é a pandemia do novo coronavírus, que impossibilitou muitas mulheres de denunciarem o caso à polícia.
Em junho, um levantamento feito pelo G1 mostrou que os casos de feminicídios cresceram em 150% na Bahia em maio, quinto mês do primeiro semestre, em comparação com o mesmo mês do ano passado. Os dados da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) apontavam que, entre os dias 1º e 31, foram registrados 15 feminicídios, contra seis em 2019.
O levantamento faz parte do Monitor da Violência, uma parceria do G1 com o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
A lei de feminicídio foi sancionada pela então presidente Dilma Rousseff, em março de 2015, em cerimônia no Palácio do Planalto. De lá para cá, já se passaram cinco anos, mas muitos casos são registrados diariamente nas Delegacias de Atendimento à Mulher (Deam) da Bahia.
A lei aumentou a pena para quem mata mulheres por razões de gênero. O texto também prevê pena maior para mortes decorrentes de violência doméstica e para os casos em que a mulher fosse assassinada estando grávida.
O que é considerada a questão de gênero? Para a polícia, é considerada questão de gênero quando o crime envolve violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Após ser sancionado, o feminicídio passou a ser um agravante do crime de homicídio, além de ser classificado como crime hediondo.
Alguns casos registrados nas últimas semanas
Na segunda-feira (14), a polícia identificou o companheiro de Jaqueline Santos de Jesus, de 21 anos, morta no último domingo (13), na cidade de Camaçari, região metropolitana de Salvador, como suspeito do crime. A vítima foi espancada e não resistiu aos ferimentos.
Um dia antes, o G1 registrou a morte de uma mulher que foi esfaqueada em Serrinha, a cerca de 180 km de Salvador. Segundo a Polícia Civil, o ex-companheiro dela foi preso em flagrante suspeito do crime.
Em Guanambi, no sudoeste da Bahia, Francisca Maria Rodrigues, de 41 anos, foi morta com golpes de barra de ferro, e o ex-companheiro da vítima foi preso, suspeito do crime. O crime aconteceu na noite do dia 4 de setembro, na casa onde a mulher morava, e foi presenciado pela filha de 22 anos do casal. O homem foi preso dois dias depois.
O caso de maior repercussão foi da médica Sáttia Lorena Patrocínio Aleixo, que caiu do 5º andar de um prédio no bairro de Armação, em Salvador. A delegada Bianca Torres, titular da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) de Brotas, que investiga o caso, concluiu o inquérito e indiciou o médico Rodolfo Cordeiro Lucas, suspeito de empurrar a companheira, por tentativa de feminicídio.
O caso aconteceu após uma discussão do casal. A médica Sáttia Lorena foi hospitalizada e continua internada, se recuperando de ferimentos causados pela queda. Ela chegou a ficar em coma induzido e foi ouvida pela polícia cerca de um mês depois. Segundo a polícia, o trauma que ela sofreu comprometeu a memória recente da médica. O teor do depoimento dela, no entanto, não foi divulgado.
O companheiro dela chegou a ser preso em flagrante pelo crime, mas foi solto por decisão judicial.
No final de agosto, Nilenia Gonçalves dos Santos, de 42 anos, foi morta a facadas, em Arembepe, localidade de Camaçari, na região metropolitana de Salvador, ao tentar defender a irmã que estava sendo atacada pelo ex-companheiro. (G1)