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Bruno Reis teve maior votação de candidato em primeiro mandato desde redemocratização

A eleição de Bruno Reis (DEM) para prefeito de Salvador teve uma votação expressiva neste domingo (15), a segunda maior de um candidato em primeiro turno desde a redemocratização. O primeiro lugar da lista ficou com o atual prefeito, ACM Neto (DEM), que atingiu a marca de 73,99% dos votos válidos, mas somente durante sua campanha de reeleição em 2016. Ou seja: considerando apenas as eleições de candidatos em busca do primeiro mandato, Reis teve o melhor desempenho desde 1985. Curiosamente, o pleito daquele ano também aconteceu no dia 15 de novembro.

Segundo o professor da UFBA e historiador político Carlos Zacarias, três fatores foram decisivos para que o atual vice-prefeito da capital alcançasse os 64% de votos válidos: a volta dos partidos políticos tradicionais; a fragilidade dos adversários de esquerda; e a pandemia.

Zacarias explica que a crise política e econômica que se inicia em 2013 no Brasil provocou uma grande rejeição popular aos partidos mais tradicionais. Em especial, ao grupo que governava o país naquele momento. “Isso permitiu que uma figura inexpressiva, absolutamente desimportante, que era um parlamentar com 28 anos de carreira no Congresso Nacional, tendo passado por nove partidos, Bolsonaro, fosse projetado como essa alternativa à política tradicional. Nesse contexto, a política tradicional sofreu uma derrota. E o principal partido que as pessoas identificavam com essa política tradicional, que era o partido do governo, o PT, sofreu uma derrota mais importante ainda”, analisou.

Entretanto, segundo o especialista, os dois primeiros anos do governo Bolsonaro decepcionaram grande parte dos eleitores, que impuseram ao presidente da República um grande revés nas eleições de 2020. “O que acontece agora é que, dois anos depois desse tipo de política extremista, de um demagogo autoritário, um agitador fascista ser levado ao governo do país, as pessoas estão cansadas disso. É por isso que a gente vê que, entre tantos derrotados nesta eleição, talvez o maior seja Bolsonaro. Ele não elegeu nenhum candidato importante apoiado por ele. Não elegeu nem Val do Açaí, a laranja, em Angra dos Reis. E, nesse vácuo da política, quem volta a ocupar a cena é o centrão, são os partidos tradicionais”, explicou Zacarias.

“Até porque são esses partidos tradicionais que sustentam Bolsonaro na Câmara. E que têm, em comparação com Bolsonaro, uma vasta avaliação positiva. Então Bruno Reis se beneficia da volta da política tradicional”, completou o professor, apontando que o DEM consegue se livrar do ônus político de ser base bolsonarista no Congresso.

“A história, certamente, vai registrar que ACM Neto, tendo sido comparado com João Henrique que foi prefeito de Salvador em duas gestões, saiu muito bem avaliado. E conseguiu não se macular, não se prejudicar pelo fato de que o partido dele, que ele preside, é base de sustentação de Bolsonaro. Lembrando que Rodrigo Maia, que é do DEM e o presidente do Congresso, tem 53 pedidos de impeachment na mão e não movimentou nenhum”, apontou o especialista.

RIVAL FRÁGIL

Zacarias também avaliou negativamente a escolha das lideranças do PT na Bahia para a disputa da prefeitura de Salvador. Para o especialista, a candidata petista não tinha envergadura política para superar o escolhido do DEM. “Eu estranhei muito a postura do governador Rui Costa e do ex-governador Jaques Wagner, que lançaram Major Denice, inclusive se confrontando com a base do PT, que queria Vilma Reis. No meu ponto de vista, a aposta está muito mais para 2022 e eles preferiram não gastar um candidato que certamente deveria ser derrotado pelo candidato de ACM Neto. Então eles foram buscar Major Denice”, avaliou.

“Em que pese Major Denice ter feito um papel importante, porque tem desenvoltura, foi bem nos debates, fez boa comunicação, ela, mesmo surpreendendo, chegando perto de 20%, não era uma candidata razoável de enfrentar o prestígio de ACM Neto e seu candidato”, disse Zacarias.

Por fim, o doutor em História ponderou sobre o impacto que a pandemia do novo coronavírus teve no processo eleitoral. Para ele, as necessárias regras de distanciamento social prejudicaram candidatos menos conhecidos e diminuíram a possibilidade de grandes viradas. “Partidos de esquerda perderam muito com a ausência dessa campanha corpo a corpo. E aqueles candidatos que eram menos conhecidos tiveram mais dificuldade de se fazerem conhecidos”, afirmou Zacarias.

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