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Tradição junina é preservada nas famílias

O São João na Bahia chega sem tradições, como as fogueiras e as quadrilhas juninas nas ruas, realidade causada pela pandemia do novo coronavírus e vivenciada pelo segundo ano consecutivo. Com a necessidade do cuidado contra a Covid-19 dentro de casa, pais e responsáveis buscam alternativas para fortalecer a cultura nordestina no imaginário das crianças.

A secretária Maristela Buarque, 49, tem o costume de arrumar a filha Sofia, 7, com trajes juninos. Na hora de arrumar o cabelo, Maristela conta que a filha adora fazer a maria-chiquinha. A pequena Sofia ainda ajuda o pai, o projetista Weliton Aragão, no preparo das comidas típicas do São João.

“Antes da pandemia, os festejos juninos eram momentos de reunião de toda a família. Com a ausência da comemoração mais física, a gente faz todo um esforço para fortalecer o imaginário da festa para a Sofia. É por isso que a gente enfeita a casa, veste ela a caráter, coloca um forró para tocar. A Sofia ainda ajuda o pai a fazer canjica, bolo”, diz Maristela.

Para amenizar parte da ausência física da festa, a mãe da Sofia explica que faz uma live de São João com os familiares. Além do auxílio de ferramentas online, Maristela diz que o lápis e o papel mantêm vivas as fábulas juninas que fazem parte do universo da Sofia. “Ela adora desenhar fogueiras, bandeirolas”, acrescenta.

Colheita

Para Sálua Chequer, educadora e especialista em cultura nordestina, é importante lembrar que o São João é a festa da colheita, da fartura, que nasce também da celebração em volta do fogo, a exemplo do que fazem os indígenas e povos de origem africana. No meio das influências indígenas, africanas e europeias, ela explica que a festa tem uma autenticidade brasileira marcada por cores, cheiros e danças, elementos que precisam ser passados para as crianças.

“É uma festa que celebra a fartura. E antes da apropriação católica da festa, que celebra o nascimento de um santo cuja imagem é um menino, já existia todo o simbolismo do fogo e celebração da colheita, a exemplo das tradições indígenas. No Nordeste, esses simbolismos ganham ainda mais força. E, apesar de todo o avanço tecnológico, a tradição junina ainda passa pelo boca a boca, pela confraternização e conhecimento que é passado para as próximas gerações”, explica Chequer.

A educadora acrescenta que a pandemia alterou a tradição de passagem do São João em cidades do interior, marcada pelos encontros ao redor da fogueira. No entanto, ainda é possível levar para casa elementos culturais, como a música e a dança, a exemplo do xote e do arrasta-pé, e a decoração, com elementos como as bandeirolas.

Com a chegada da Covid-19 à Bahia, os festejos juninos no interior deixaram de fazer parte do hábito da assistente administrativa Jaqueline Paixão, 39, mãe de João Vítor, 9. Para reduzir a falta que o garoto sente das comidas típicas e das atrações musicais na praça da cidade de São Felipe, localizada a 178 km de Salvador, ela organiza todo um festejo dentro de casa.

“O João sempre foi ensinado a valorizar a cultura e tradição nordestina. E a ida para São Felipe deixava ele feliz, pois permitia encontrar os avós, se encantar com a música, a dança, as vestimentas dos grupos tradicionais da cidade. Com a pandemia, isso deixou de fazer parte da vivência dele. E a solução foi fazer o arraiá dentro de casa”, conta Jaqueline.

A assistente administrativa faz questão de passar a paixão pelas comemorações juninas ao filho, com decorações feitas com bandeirolas, trajes e brincadeiras. Diante da importância e toda a simbologia do São João para o garoto João Vítor, ela torce para que a imunização contra a Covid-19 avance e as festividades no interior retornem.

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