A menos que aconteça uma grande ruptura na base de apoio ao governo do estado, capaz de desencadear mais de uma candidatura do outro lado, o futuro da Bahia deve ser definido a partir do confronto político entre as duas principais forças locais: o grupo político liderado pelo ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil) e o liderado pelo PT. Esta é a análise com a qual trabalha Neto.
Em clima de dejá vu, ele recebeu neste sábado (05) o apoio do Cidadania à sua pré-campanha para a disputa do governo estadual. Desde 2012, o partido é sempre o primeiro a se posicionar ao lado do grupo político liderado pelo ex-prefeito. Acompanhado de lideranças partidárias do seu partido e de outras agremiações, o pré-candidato foi recebido com festa no congresso estadual do Cidadania, realizado no Hotel Fiesta.
“Este é um momento extremamente simbólico, me faz lembrar de 2012, e o que eu posso dizer é que os meus propósitos seguem sendo os mesmos daquele momento”, disse o ex-prefeito durante o encontro com integrantes da legenda aliada. Ele ainda fez questão de dizer para os presentes que não há nenhum outro pré-candidato com tanta vontade de ser governador quanto ele.
“Não é com a receita velha que está aí que iremos resolver os problemas da Bahia. Do mesmo modo, não é com dúvidas, mas com a certeza do que queremos que vamos transformar a Bahia”, destacou, lembrando de uma conversa que teve com o avô, o saudoso senador ACM, sobre política em 1998. “Ele me perguntou, ‘você quer mesmo entrar na política?’ e eu não titubeei, então ele me falou para largar tudo e me dedicar somente a isso. Política impõe sacrifícios, dedicação e renúncia”, destacou.
Apesar das dificuldades que vem se desenhando na composição da chapa adversária, ACM Neto disse esperar por uma disputa eleitoral bastante acirrada. “Essa coisa de não dar pitaco em time adversário é uma convicção que eu tenho e não vou mudar hoje. Agora, vocês jamais irão me ver subestimar ninguém, ao contrário eu tenho tentado organizar o meu time, os nossos partidos”, respondeu durante uma entrevista coletiva após o encontro partidário. “Boa parte do meu tempo tem sido dedicado a fomentar candidaturas a deputados, para ajudar a organizar os partidos que nos apoiam”, disse.
Ele lembrou que tem muitas decisões a tomar até o dia 2 de abril e não tem tempo ou interesse em se envolver com as decisões do outro grupo político.
“É a vida deles, eles que irão resolver. Agora, que fique claro, qualquer que seja o nome escolhido, para mim está claro que será uma eleição muito dura, disputada, em que eu tenho a consciência de que estarei enfrentando um grupo que está há quase 16 anos no poder e que tem a máquina governamental consigo”, analisou. “Não subestimarei nenhum nome que venha do lado de lá”.
Segundo o ex-prefeito, a sua chapa completa só deverá ser apresentada depois de analisar o caminho traçado pelos seus adversários. “Quem tem pressa são eles, o meu desafio aqui é ter um excesso de nomes querendo integrar a chapa como possíveis candidatos ao Senado e a vice. Meu foco é organizar a chapa proporcional (candidatos a deputados estaduais e federais). Se puder anunciar os nomes até 2 de abril, ótimo”.
Ele fez questão ainda de ressaltar o respeito pelo senador Jaques Wagner (PT), de quem sempre foi “adversário político, mas com uma relação pessoal de muito respeito”. Neto avisou que, se eleito governador, pretende procurar o petista, bem como os demais senadores do estado, em busca de apoio para os projetos do estado. “Sempre tive muito respeito pessoal por ele e isso não muda de maneira alguma. Não me cabe nenhum tipo de comentário sobre a decisão dele”.
O mesmo se repete no caso do senador Otto Alencar (PSD), disse Neto. “Nossa relação sempre foi de muito respeito e isso é algo que não mudará, independente dele disputar o governo ou a reeleição ao Senado. Não tem porque transformarmos a política em arena de brigas. Se depender de mim, não vai acontecer”, ponderou.
Para o ex-prefeito de Salvador, os seus adversários entrarão nesta campanha preocupados em defender os 16 anos de governo, enquanto ele e o seu grupo terão liberdade de olhar apenas para a frente. Ele avisou que pretende reconhecer os feitos positivos de seus adversários, porém questionou o motivo de não terem feito transformações efetivas em áreas como saúde, educação e segurança pública. “Será que eles irão deixar o estado em um patamar compatível com o potencial, a força e os sonhos que a Bahia tem?”, perguntou. “Não dá para continuarmos no último lugar da educação pública do Brasil”, completou.
Lembrança
O prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), fez questão de lembrar que em 2012, o Cidadania (que se chamava PPS na época) foi o primeiro grupo a apoiar Neto na disputa pela Prefeitura. “Estamos vendo a história se repetindo e esperamos que o resultado também se repita”, destacou.
“Nós queremos que o estado, assim como aconteceu com Salvador, enfrente os seus problemas. É por isso que fomos pioneiros no apoio lá atrás e estamos sendo agora, entendemos a importância deste grupo, que já foi testado e aprovado”, discursou o vereador Joceval Rodrigues, reconduzido por mais quatro anos à presidência estadual do Cidadania.
Para o presidente estadual do PSDB e líder do partido na Câmara, deputado federal Adolfo Viana, os integrantes da aliança partidária que apoia Neto têm boas perspectivas para as próximas eleições. Segundo ele, o PSDB indicou o nome do prefeito de Mata de São João, João Gualberto, para compor a chapa com Neto. Segundo ele, os tucanos baianos estão atentos a eventuais insatisfações de políticos que atualmente integram a base de apoio ao governador Rui Costa (PT).
“Eu não gosto de falar do time adversário, mas todos aqueles que quiserem participar do processo de reconstrução da Bahia, ao lado do futuro governador ACM Neto, serão muito bem vindos”, respondeu Viana. Ele não quis citar nomes, mas lembrou que a janela partidária está aberta e garantiu que o seu partido pretende utilizar isso da melhor maneira possível.
Em uma mensagem de vídeo, o presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, disse que o partido tem um “compromisso de futuro” com ACM Neto.
Correio da Bahia