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Foragidos, bolsonaristas desafiam Justiça e pedem Pix em live no Insta

Live foi transmitida pelos foragidos momentos após o STF condenar o primeiro réu envolvido nos atos antidemocráticos de 8 de Janeiro

Momentos após o Supremo Tribunal Federal (STF) condenar o primeiro réu envolvido nos atos antidemocráticos de 8 de Janeiro, nessa quinta-feira (14/9), bolsonaristas foragidos da Justiça iniciaram uma live no Instagram para pedir Pix e o apoio de internautas na fuga de outros procurados por financiamento dos atos terroristas.

A transmissão foi iniciada no perfil de Esdras Jonatas dos Santos, 34 anos, que ficou conhecido por chorar durante ação da Guarda Civil de Belo Horizonte (MG) que desmontou acampamento em frente ao quartel do Exército do estado. O mineiro, que afirmou na gravação ter deixado o Brasil em 8 de janeiro, tem um mandado de prisão aberto desde fevereiro de 2023.

Esdras convidou para acompanhar na live o político José Renato Gasparim Junior, que também está foragido desde o fim de janeiro, quando teve prisão decretada, e o blogueiro e jornalista Oswaldo Eustáquio Filho. Este último, teve prisão preventiva expedida por Alexandre de Moraes.

Na live, os bolsonaristas reclamam da falta de apoio de deputados e senadores eleitos pela direita brasileira e pedem que internautas lotem o perfil do presidente do Paraguai e intercedam em favor da fuga de outros procurados que tentaram entrar no país, como Rieny Munhoz Marçula Teixeira.

“Se ela [Rieny] chegar e for deportada, acabou, meus amigos. Não têm Pix que resolva. […] O que eu vou pedir para vocês agora… Renato Gasparim, você é um dos maiores articuladores que eu conheço. Presta atenção, cacete, porque você pode ajudar muito. Alguém escreve ai o arroba do Santiago Penã, presidente do Paraguai. Depois, todo mundo que está nessa live, mil pessoas, vai no perfil do Santiago e escreva: ‘Não deixe entregar os brasileiros. Isso foi uma armação’”, pediu Oswaldo.

Rieny foi presa pela Polícia Federal momentos após a live. Ela e outros três foragidos foram entregues à PF pelas autoridades paraguaias na ponte da Amizade, em Foz do Iguaçu (PR).

Em um outro trecho da live, Esdras e Renato Gasparim reclamam da vida de foragidos e instigam apoiadores a “fazerem algo”.

“Vamos fugir para onde? Se no Paraguai estão nos entregando. Uruguai? Bolívia? Isso vai acontecer em qualquer lugar. Ah, vou fugir para Pedro Ruan… Para que, meu amigo? Se a porra do governo paraguaio tá te fodendo. […] Eu vou fugir para onde? Ah, vou para Bolívia. Ah, vou para Uruguai. Para que? Vai chegar e será a mesma merda daqui três meses. Então, na boa, tem 700 pessoas assistindo isso [live]. Se vocês não fizerem nada, político algum fará”, disse Gasparim.

Esdras, então, comenta: “Mas eu sei, amigo, o que você está vivendo. Tem um ano. Eu saí daí (Brasil) em 8 de janeiro, entrei em contato com o Nikolas [Nikolas Ferreira (PL)], entrei em contato com o Cleitinho [Cleitinho Azevedo (Republicanos)]. O Cleitinho me respondeu. Ele é da minha cidade, no estado de Minas Gerais. Ele virou para mim e falou assim, pelo WhatsApp, ‘isso é problema de advogado para você resolver Esdras. Eu não posso fazer nada por você’”.

“Estou com uma criança aqui, Renato. Estamos passando por lutas. Estamos vivendo de dólar. Aqui não tem documento para trabalho. Quando eu arrumo trabalho de faxina, me mandam embora porque sabem que estou sendo procurado pela autoridade brasileira”, pontuou Esdras.

Em um terceiro ponto, Gasparim volta a reclamar de políticos e os chama de “hipócritas”. “Tenho que aguentar deputado e senador olhando, fingindo que não está vendo mensagem minha. Estou a ponto de explodir. […] Vocês, o povo, eu defendo até o fim. Mas filha da puta, hipócrita de deputado e senador, que finge que nada está acontecendo, isso me deixa muito triste”, comenta.

Veja:

Ao Metrópoles o advogado criminalista Maurício Reis disse que a fuga não configura crime.

Por outro lado, segundo o advogado, trata-se de uma violação da lei pedir apoio para que outras pessoas fujam ou para que o próprio indivíduo permaneça fugindo, como acontece na live.

“Partindo do princípio de que o Estado entende que as pessoas que participaram ou financiaram os atos de 8 de janeiro fazem parte de uma organização criminosa, todas as pessoas que, de alguma forma, ajudam esses foragidos, elas automaticamente estão cometendo um crime”, comentou Maurício.

“Seria diferente se a ajuda estivesse sendo enviada para auxiliar no pagamento de um advogado ou de uma multa, por exemplo. No caso da live, eles estão pedindo apoio para que outras pessoas fujam ou para que eles mesmos permaneçam fugindo, certo? Dessa forma, estão trabalhando para que esses indivíduos se desvencilhem da responsabilidade penal e, consequentemente, cometendo o crime de obstrução da justiça”, finalizou.

Defesa

Procurado, Oswaldo Eustáquio declarou que “o artigo 5º da Constituição brasileira” garante a ele “o direito de liberdade de expressão”.

“Sou um refugiado político, com garantias legais no Paraguai, que me faz um cidadão com direito de ir e vir, estudar, tirar carteira de habilitação, ter conta em banco, portanto posso falar onde eu quiser. Tenho sido alvo constante de censura prévia pela Suprema Corte, que de forma ilegal e rasgando a nossa carta magna. Nem nos tempos do regime militar, só temido AI-5 não se impõe censura tão terrível e sombria a um jornalista profissional diplomado como fazem comigo”, disse.

“E mesmo censurado, com redes suspensas, se eu subir em qualquer live pela conta de algum amigo ou por alguma conta de apoio, certamente tenho mais audiência do que qualquer meio de comunicação digital do Brasil, porque o conteúdo se tornou maior do que o meio e tentar calar a minha voz faz apenas as pessoas procurarem cada vez mais meu jornalismo”, finalizou.

As defesas de Esdras Jonatas dos Santos e de José Renato Gasparim Junior não foram localizadas. O espaço segue aberto para futuras manifestações.

Metrópoles/Jéssica Ribeiro

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