Época de jejum e abstinência da carne vermelha, período é propício para alavancar os negócios
Passado o Carnaval, o período é de preparação para a Páscoa na tradição católica. É a chamada Quaresma, que corresponde a 40 dias de reflexão, oração, jejum e abstinência da carne vermelha, tanto na Quarta-feira de Cinzas, como na Sexta-feira da Paixão. Para o mercado econômico, a época é propícia para impulsionar os negócios sazonais e, no caso, um dos setores mais beneficiados é o de pescados. Nessa temporada, mercados e feiras de diversos municípios contabilizam um aumento nas vendas de peixes e frutos do mar de cerca de 30%, sendo que na Semana Santa se dá o pico do consumo.
Desde 2004, o consumo per capita de pescados no Brasil subiu de 6,5 kg para 10 kg por habitante/ano, o que significou um crescimento de 65% até 2023. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), o Produto Interno Bruto (PIB) da aquicultura e da pesca alcança R$ 25 bilhões, com tendência de alta ano a ano. “Estamos mantendo a projeção de crescimento anual de 3% a 5% ao ano. Em 2023, tivemos um aumento um pouco menor da média dos últimos anos. Mesmo assim, manteve crescimento. Este ano, a expectativa é que seja melhor do que no ano passado e de um crescimento próximo dos 5%”, avalia o diretor-executivo da entidade, Jairo Gund.
Modelo na produção, no consumo, na sustentabilidade e na cultura peixeira, a Bahia segue com quase os mesmos indicadores, conforme o gestor da Abipesca. “Somos um estado modelo de consumo para o restante do país. Consumimos muito peixe, o ano todo. A Quaresma contribui e muito para o aumento do gráfico de crescimento de consumo. Além do mais, o território baiano é um grande produtor de tilápia na região de Paulo Afonso, com grande potencial de crescimento, sendo um produto diferenciado das águas do São Francisco”.
No sul do estado, destaca Jairo Gund, existe um polo importante de produção de lagostas, que no maior volume se destina as exportações para os EUA, a China, a Austrália, e Singapura. “Temos também nessa região, em Alcobaça, um projeto de sustentabilidade modelo para o mundo, no qual temos a produção em aquicultura de espécie ameaçada de extinção, como é o caso da garoupa. Esse produto da alta gastronomia é produzido de maneira sustentável e contribui, inclusive, com o repovoamento desta espécie, além de termos empresa que utilizam de suas estruturas tecnológica com o Projeto Tamar, na preservação e soltura de tartarugas”, detalha.
O cenário baiano analisado pelo representante da Abipesca tem como aliado o projeto voltado ao fomento, produção e consumo de pescado da Bahia Pesca – empresa criada pelo governo estadual para atuar na atração de investimentos; desenvolvimento científico e tecnológico; criação de polos produtores; e fortalecimento das cadeias produtivas. “O nosso trabalho é incansável, no sentido de tornar o pescado uma alternativa de consumo de proteína animal de alto valor nutritivo para todas as camadas da população. Especificamente na Quaresma, a Bahia Pesca procura orientar o consumidor a buscar o pescado em fontes seguras e confiáveis”, pontua o presidente da companhia, Daniel Victória.
A atividade pesqueira na Bahia envolve 229 entidades ativas – entre associações (126), colônias (83), sindicatos (15) e cooperativas (5) –, conforme dados da Bahia Pesca. A presidente da Associação de Pequenos Produtores de Peixe de Lagoa do Junco, Juliana Feitosa, conta que, no período da Semana Santa e da Quaresma de 2023, a Associação comercializou cerca de 80 toneladas de tilápia e, durante o ano inteiro, vendeu cerca de 380 toneladas. “Este ano, devemos aumentar em torno de 8,3%. A atividade de Piscicultura na região tem um potencial enorme, já que a cidade de Paulo Afonso é abundante em água, graças ao Rio São Francisco”.
Exportador de tilápia
Com mais de 900 quilômetros de praias, a maior extensão litorânea do país, a Bahia é o terceiro maior exportador de tilápias do Brasil, com 931 toneladas desse peixe negociadas no exterior, gerando uma receita de US$ 2,5 milhões, conforme o Anuário Peixe BR de Piscicultura 2023. Dados de 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dão conta de que os municípios de Glória, Barreiras e Paulo Afonso lideram o ranking com a maior produção de pescados do estado, seguidos por Casa Nova, Valença, Canudos, Cabaceiras do Paraguaçu, Carinhanha, Almadina e Araci, sendo a tilápia a espécie mais produzida.
O piscicultor Cláudio Ademar, sócio-administrador da Piscicultura Itaparica, no município de Glória, afirma que a perspectiva é que, em relação ao ano passado, 2024 registre um aumento de 20%, tanto no volume de produção de tilápia, como no preço do mercado na Semana Santa. A piscicultura na Bahia, ressalta Cláudio Ademar, sofreu uma queda em 2018 que, consequentemente, continuou no período da pandemia. “Mas estamos reagindo. A cidade de Glória já foi o maior produtor de tilápia do Brasil e perdeu este status, mas já está retomando o seu crescimento e eu acredito que, no mais tardar em dois ou três anos, a gente volte a ser o maior produtor da espécie em termos de município brasileiro”, avalia.
Um dos fatores que vão contribuir para este aumento, na sua avaliação, é a isenção de dois tributos federais – o Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) – na ração do peixe. Outro ponto positivo, observa, é que nas regiões dos lagos de Moxotó e Itaparica, bem como em Xingó, mais de 80% dos produtores estão trabalhando de forma regularizada.
Onde comprar pescados e mariscos
Em Salvador:
– Mercado do Peixe – Av. Jequitáia, no Comércio. Funcionamento: das 3h às 17h, de segunda a sábado, e das 3h às 14h, no domingo. Produtos: além de pescados e mariscos, os clientes encontram itens como azeite de dendê, leite de coco, castanha e quiabo.
– Mercado Jardim Cruzeiro – Rua Rezende Costa. Funcionamento: de segunda a sábado, das 7h às 17h, e no domingo, de 7h às 14h.
– Mercado São Cristóvão – Av. Aliomar Baleeiro. Funcionamento: de segunda a sábado, das 7h às 17h, e no domingo, de 7h às 14h.
– Mercado Municipal Dois de Julho – Largo Dois de Julho. Funcionamento: de segunda a sábado, das 7h às 18h, e no domingo, das 7h às 15h.
– Feira de São Joaquim – Peixaria Netuno – Av. Eng. Oscar Pontes, s/n – Água de Meninos. Funcionamento: de terça a sábado, das 7h às 16h, e aos domingos, das 7h às 12h.
– Dumar Pescados – R. das Camélias, 44 – Pituba. Funcionamento: de segunda a sexta, das 8h às 18h, e aos sábados, das 8h às 14h.
– Aquarius Deli – R. Prof. Sabino Silva, 43, loja 3 – Chame-Chame. Funcionamento: de segunda a sexta, das 8h às 15h, e aos sábados, das 8h às 13h.
– Nacs Periperi – Rua Ambrósio Calmon. Funcionamento: de segunda a sábado, de 7h às 18h, e domingo, de 7h às 14h.
– Mercado Municipal de Itapuã – Rua Genebaldo Figueredo. Funcionamento: de segunda a sábado, de 7h às 20h, e no domingo, 9h às 20h.
– Nacs Itapuã – Av. Dorival Caymmi. Funcionamento: de segunda a sábado, de 7h às 18h, e domingo, de 7h às 14h.
Pelo interior:
– Glória – Mac Fish, no Sítio Salgadinho, s/n, povoado Salgado dos Benícios
– Barreiras – Vila do Peixe, montada durante a Semana Santa, na antiga Cesta do Povo, próxima à feira livre da cidade.
– Paulo Afonso – Peixaria Paulo e Lena, na Rua Santa Rita, 183 – Bairro de Tancredo Neves
– Casa Nova – Ze Aleixo Pescado, na Travessa Umbuzeiro, 82, Vila Massu.
– Valença – Mercado de Peixes, na Rua Juvenil Braga Fonseca, nº 01
– Canudos – Betão da Tilápia, na Praça Juscelino Kubitschek, nº 41, Bairro Centro
– Cabaceiras do Paraguaçu – Casa do Peixe, na Estrada Timbora, Petim,
– Carinhanha – Mercearia e Peixaria Souza, na Rua Bahia, nº 1056-1186
– Araci – Bento do Peixe, na Rua Jose Tiburcio, 117, Centro
– Juazeiro – Mercado Municipal Joca de Souza, localizado entre as ruas Castro Alves e Oscar Ribeiro, no centro.
– Ilhéus – Terminal Pesqueiro de Ilhéus, na Rua Aurelino Linhares, 153, Centro – Lagoa Encantada.
– Xique-Xique – Nova Peixaria Bom Jesus da Lapa, Cj. Habitacional – Av. Raul Teixeira Braga – BNH Novo.
Mulheres já representam 58% dos registros de pesca no estado
As mulheres, que até a década de 1990 eram minoritárias no segmento pesqueiro, hoje representam a maioria dos trabalhadores do setor registrados no Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). Dos 114.966 registros no Sistema Informatizado do Registro Geral da Atividade Pesqueira (SISRGP) do Estado da Bahia, 66.676 são femininos – equivalendo a quase 58% do total – contra 48.282 masculinos, que refere a pouco mais de 42%. Com a atuação conjunta de homens e mulheres, a Bahia é o terceiro maior contingente da pesca e da aquicultura nacional, com 114.966 profissionais, o que correspondente a 11% da mão de obra do setor no Brasil.
Dos 1.030.166 registros de pesca profissional de todo o país, as mulheres são maioria na Bahia e em apenas outros quatro dos 27 estados da Federação: Maranhão, Sergipe, Pernambuco e Alagoas. Nacionalmente, os homens ainda são maioria, mas por com uma pequena margem de vantagem, com 51% da mão de obra masculina e 49% feminina.
De acordo com a Bahia Pesca, “a predominância feminina entre os profissionais da pesca na Bahia, mostrada pelo SISRGP, ratifica a tendência que já havia sido apontada nos Seminários Regionais de Planejamento das Políticas Públicas para a Pesca Artesanal (Serpesca), entre outubro e novembro de 2023”. As mulheres perfizeram 54,6% dos associados das entidades representativas da categoria, enquanto os homens foram 46,4%. Criado pela própria Bahia Pesca, com o apoio das secretarias estaduais de Políticas para Mulheres do Estado da Bahia (SPM) e de Desenvolvimento Econômico (SDE), o Serpesca visa, principalmente, aproximar os trabalhadores do setor com suas respectivas entidades de classe, a fim de reduzir o elevado grau de informalidade da categoria.
Para ter direito ao registro profissional, pescadores, pescadoras, mariqueiros e marisqueiras devem procurar a sua entidade de classe ou a Superintendência da Pesca em Salvador, munidos de carteira de identidade, CPF, comprovante de residência, NIS e título de eleitor.
Portal a Tarde