O governador da Bahia, Rui Costa (PT), fez uma série de críticas ao governo Bolsonaro e admitiu que não vê possibilidade de realizar o Carnaval em 2021. Ele também criticou o movimento de flexibilização do isolamento social justamente no momento de pico da pandemia do novo coronavírus. Segundo o gestor, “não dá para imaginar show com 50 mil, 30 mil pessoas, como a gente costuma ver”. “Não é possível o poder público autorize isso. Não acho que, em nenhum lugar do mundo, será autorizado. Não vejo como autorizar evento de massa com o vírus circulando. A não ser que a gente queira que mais cinco mil, dez mil pessoas morram para a gente fazer uma festa de Carnaval”, declarou.
O governador afirmou logo no início da live feita pelo Valor Econômico que, se o governo federal tivesse tomado medidas enérgicas, a crise sanitária seria contida em 30 dias. “Já se passaram mais de 60 dias e não conseguimos sequer isolar o vírus em algumas regiões do país”, disse. Para ele, a flexibilização da quarentena inevitavelmente vai significar um maior número de mortes. “A flexibilização pode acelerar o número de mortes.”
O gestor baiano aponta a falta de diálogo do governo federal com estados e municípios e que, por causa disso, o vírus ainda deve circular ao longo de todo o ano no país. Sobretudo porque o presidente Jair Bolsonaro não tem se empenhado para fazer parcerias com outros países para ajudar na produção da vacina. “Se a imagem do Brasil, desde 2015, 2016, já não vinha boa, piorou demasiadamente. A imagem do Brasil não está no chão, está no subsolo, e o Brasil tem feito pouco esforço para sair dele”, afirmou.
O petista defendeu que o Brasil invista e entre na busca por uma vacina para a doença. Na visão dele, essa seria a “emancipação da crise” que assola o país. “Fica o desejo e acho que o Brasil deveria estar engajado na produção de vacinas. Outros países estão participando e acho que o Brasil deveria buscar parcerias internacionais para ter a produção mais rápida”, declarou.
Rui também fez críticas ao comportamento de Jair Bolsonaro e citou as declarações do ministro da Educação, Abraham Weintraub, durante o vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril. Na ocasião, o titular da pasta sugeriu a prisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Se a imagem do Brasil já não vinha boa internacionalmente, piorou. As pessoas me perguntam se a imagem do Brasil está chão e eu digo que está no subsolo. O país não tem feito esforço para sair do isolamento, pelo contrário. As declarações do ministro nessa última reunião provocaram reações de países que teriam interlocução do Brasil, inclusive Israel. O mundo está olhando com estranheza o que está acontecendo”, lamentou.
Questionado sobre a organização de movimentos de rua contra Bolsonaro, sobretudo após a marcha democrática realizada em São Paulo no último fim de semana, Rui não recomendou a participação. Em Salvador, um novo protesto está marcado para o próximo domingo, no Farol da Barra. “Eu não recomendo participar. Acho que é arriscar a vida dos seres humanos porque mesmo que sejam jovens, eles voltam para casa. Boa parte dos jovens não moram sozinhos e isso vai causar uma disseminação maior da doença”, afirmou. “Temos que tomar medidas ou vamos presenciar, nos próximos dias, explosão de casos e de necessidade de leitos, e nós não temos esses leitos para ofertar”.
O gestor estadual afirmou que o chefe do Executivo “se pauta pelo conflito”. “O que ele faz é o que sempre fez. Ele não seguiu a carreira militar por fazer conflito, tanto que foi expulso. No parlamento, durante 28 anos, nunca foi referência em tema algum”, pontuou.