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Casos ativos tem aumento de 287% e óbitos 250% em 15 dias; Enfermeira se desespera

Até segunda-feira, dia 5 de abril, o boletim da Covid-19 da prefeitura do município informava 89 casos ativos e 4 óbitos confirmados. Nesta segunda-feira, 19, exatos 15 dias depois, o mesmo órgão emite boletim dando conta de aumento de 287% de casos ativos, alcançando o recorde de 255 pessoas com a doença e 250% do número de óbitos, entre confirmados e em “investigação”. Dia 5 eram quatro óbitos no total, desde o início da Pandemia, dia 16, já eram 7 confirmados e um em análise e nesta segunda, 14 óbitos (7 confirmados e 7 em investigação).

De acordo com informações de amigos, familiares e vizinhos, Emerson, Bandeira, José Roberto, Lourival, Pompílio e Olindina foram vencidos pela Covid-19 e morreram entre sexta, 16 e domingo, 18. No boletim, a Prefeitura colocou que os casos estão ainda em investigação. Um servidor do Hospital Municipal disse, condicionado ao anonimato, que todos os citados estavam com crise respiratória grave.

No domingo, a redação do site Cultura&Realidade recebeu três áudios da sequência de uma mesma fala, creditada a uma enfermeira do Hospital Municipal de Uibaí. O site constatou com amigos da autora do áudio, a veracidade do manifesto feito pela profissional.

Transcrevemos os áudios:

“Boa noite família! O negócio tá feio, ninguém tem noção, noção, noção, noção do que estamos vivendo em nossa cidade. Só a gente que tá vivenciando no dia a dia. Quem tiver um tempinho, tire de 5 minutos ou 10 minutos para pedir a Deus… (pausa/choro)… por todos os conhecidos da gente que estão ali se acabando. O negócio tá feio. Eu estou aqui toda arrebentada… de tanto trocar oxigênio… paciente com 15 litros de oxigênio e a saturação em 74… você está trocando de um aqui, outro já grita ali: ‘meu oxigênio está acabando!’. Paciente já fadigando, agarrando em você, faltando fôlego, faltando ar… ‘não deixe eu morrer não, me socorre…’

Oxigênio só dá uma hora de relógio… e o pessoal sem ter tempo. Seis torpedos trocamos hoje no dia e agora a noite já chegaram mais 6, já trocamos 4 ficaram só dois… e a menina já pediu mais seis para amanhã…  o negócio não é brincadeira não… só quem está dentro pra ver e saber que o negócio não é fácil.

Só o tempo de dois minutos de você trocar o oxigênio, correndo, para socorrer outro paciente agarrando em você, paciente já fadigando, pedindo para não morrer, faltando ar. É preciso Deus interceder… tanto pelos pacientes como por nós. Porque o nosso psicológico fica no chão. E você ver assim, todo mundo conhecido. O negócio não é bonito não. Nós passamos o dia hoje no hospital, que só Jesus na misericórdia. Pense num plantão de arrebentar. Só paciente grave… 10 pacientes tudo grave e a gente corre para um lado, corre para o outro… todo mundo correndo para um lado e para outro, de diretor a coordenador, a enfermeiro… todo mundo. O trem tá feio gente, o trem tá feio, o trem tá feio… você não tem noção de como está a coisa aqui em Uibaí. Você não tem noção da gravidade… é novo, velho, tudo. O negócio não tá bonito. Vamos entrar em oração todo mundo e pedir a Deus… tem paciente que tenho fé que não sai do quadro não. Só Jesus na misericórdia… porque nada para Deus é impossível, mas o negócio é grave, é grave, é grave, é muito grave.”

O site manteve contato com a Enfermeira, mas optou por não se manifestar à reportagem e por isso não podemos revelar a sua identidade. Seu áudio desesperador revelou ao público o ambiente de um Pronto Atendimento Covid-19, quando há demanda superior à capacidade de atendimento da estrutura disponível e o quanto é agonizante trabalhar em circunstâncias como esta. De certo, ela enfrentou o mais dramático plantão da sua história, até o momento.

CONDUTA NEGACIONISTA

Apesar da elevada adesão dos segmentos comerciais, que busca obedecer às orientações das autoridades sanitárias, muitas pessoas tem se reunido em fundos dos quintais residenciais e nas propriedades rurais, reunindo amigos e familiares que não são do convívio da mesma residência, para realização de atividades festivas, inclusive com uso de bebidas alcoólicas.

Paralelo a isso, alguns donos de bares e adega dão sempre um “jeitinho” de furar as orientações e comercializam discretamente grande volume de bebidas que são buscadas disfarçadamente pelos usuários, através de motos ou veículos que ficam afastados dos pontos de vendas, uma estratégia para dificultar a fiscalização da saúde sanitária e dos cidadãos preocupados com controle da Pandemia no município.

Esta postura em que comerciantes e consumidores driblam as normas para satisfazerem seus interesses, deixa evidente que não adianta medidas como lockdown, se a população não se conscientiza dos riscos, uma vez que os municípios não tem “pernas” para fiscalizar todos os lugares ao mesmo tempo.

“Se fechar os estabelecimentos comerciais, para estimular o isolamento social, as pessoas acham que estão de férias. Se aglomeram ainda mais nos quintais de casa e nas roças”, pontua o prefeito de Irecê, Elmo Vaz, sobre casos em seu município. Falta uma consciência coletiva e afirmativa de que cada sujeito deve fazer a sua parte, obedecendo as orientações das autoridades de saúde.

CulturaERealidade

 

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