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Problemas emocionais interferem no agravamento da queda capilar

A queda de cabelo é um processo natural, visto que chegam a cair de 100 a 150 fios por dia. Contudo, muitas pessoas estão vivenciando o agravamento da queda capilar, principalmente em razão de problemas emocionais, impulsionados pela pandemia da Covid-19.

Um estudo publicado pelo Journal of the American Academy of Dermatology aponta um aumento de 400% dos casos da queda de cabelo com o início da pandemia. A queixa, que já era comum, tornou-se frequente nos consultórios dermatológicos, após o início da situação emergencial que já dura mais de um ano. O problema tem atingido tanto pessoas que já desenvolveram a Covid-19, quanto indivíduos que não contraíram a doença, mas sofrem os efeitos psicológicos do momento atual.

Segundo a médica dermatologista Marília Acioli, o cenário epidemiológico impôs uma série de mudanças na rotina, o que gera “uma carga de sofrimento emocional que pode ter consequências físicas como, por exemplo, o eflúvio telógeno [aumento da queda diária de fios] por estresse”.

O eflúvio telógeno tem sido a principal reclamação dos pacientes quanto à queda de cabelo, de acordo com a especialista. “É a doença onde existe o desprendimento dos fios devido a um insulto pontual. Pode ter inúmeras causas, como estresse, anemia, deficiência de nutrientes como ácido fólico ou zinco, doenças sistêmicas como lúpus, alterações tireoidianas, entre outros”, explica.

Contudo, a especialista alerta que o fator emocional é um diagnóstico de exclusão e que a queixa deve ser investigada antes de tudo. “Nós, médicos, só devemos atribuir uma queda de cabelo ao estresse depois de excluir outras possíveis causas”, pontua.

Dermatologista alerta que eflúvio telógeno tem sido a principal reclamação dos pacientes quanto a queda de cabelo | Foto: Divulgação
Dermatologista alerta que eflúvio telógeno tem sido a principal reclamação dos pacientes quanto a queda de cabelo | Foto: Divulgação

Impactos emocionais no organismo

Embora já enfrentasse a queda capilar, a profissional de Recursos Humanos Luciana Souza, 44 anos, percebeu um visível aumento do problema durante a pandemia. Ela recorreu aos tratamentos caseiros para tentar diminuir a queda, estimulada por fatores emocionais.

“A pandemia mexeu com o psicólogo de muitos brasileiros e acredito que esse aumento [da queda capilar] está atrelado sim a problemas emocionais”, diz ela.

A jornalista Maria Luisa Gouveia, 34 anos, também reparou no excesso da queda dos fios durante a pandemia. “Percebi que a queda começou logo no primeiro mês de isolamento social e com as medidas restritivas mais intensas do ano passado”, ressalta.

Gouveia buscou um tricologista, passou por um diagnóstico e seguiu com cuidados e tratamentos em casa. Ela destaca que obteve resultado no período de um a dois meses. “Por isso, hoje, acredito que a continuidade da queda é mais voltada para o estresse de trabalho, do cotidiano, além da preocupação com a pandemia e todo o contexto que vivemos”, enfatiza.

Para a psicóloga Liliane Ramos, os brasileiros não costumam trabalhar as emoções, inclusive de maneira preventiva, o que leva a uma resposta negativa do organismo. “Um pedido de socorro que, muitas vezes, não é observado, como a queda capilar, acaba sendo atrelado a outros aspectos que não o emocional, oriundo do estresse e ansiedade”.

A psicóloga alerta que as pessoas pouco percebem os problemas psicológicos como possíveis desencadeadores para a queda de cabelo e que, no Brasil, é comum a procura pelo profissional da psicologia apenas quando a patologia já está instaurada.

Segundo ela, no primeiro momento, a queda de cabelo é associada a alguma fraqueza do organismo ou ao próprio estresse. Contudo, a interligação da queda capilar com o estresse não vem como um sinal de alerta, o que pode aumentar a probabilidade de desenvolver alguns transtornos e doenças, como Transtorno de Estresse Agudo (TEA), Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), depressão, doenças cardíacas, insônia, câncer e outros.

“Em relação a Tricotilomania, que é a compulsão em puxar e arrancar o próprio cabelo de qualquer área do corpo e está associada a quadros de ansiedade, a pessoa demora a pedir ajuda por vergonha, pois acredita que poderá resolver sozinha e normalmente só procura um profissional quando no couro cabeludo já existem regiões calvas”, esclarece.

Fatores crônicos e de saúde

Variados motivos podem ser descritos para o processo da queda capilar, incluindo problemas de saúde ou crônicos, que exigem um diagnóstico. “Não só as doenças agudas, mas também as doenças crônicas podem interferir na taxa de renovação dos fios. Entre elas, principalmente as doenças reumatológicas como lúpus e artrite reumatoide, neoplasias, em especial quando em uso de quimioterapia e alterações hormonais, em destaque as alterações dos hormônios da tireoide”, diz a dermatologista.

Caso se perceba que a queda capilar não tem relação com problemas de saúde ou crônicos, a psicóloga apela para que o paciente busque ajuda de um profissional. “O psicólogo, após análises dos comportamentos, irá auxiliar o paciente a encontrar e trabalhar as causas do estresse e, assim, ele voltará a ter saúde”, diz.

A dermatologista Marília Acioli informa que a pandemia também fez as pessoas piorarem a alimentação, com maior ingestão de alimentos de fast food. “Isso contribui para deficiências nutricionais e queda de cabelo por falta de nutrientes adequados”, salienta.

Outro fator para o aumento da queixa está atrelado à percepção de queda. Entretanto, neste caso, não há doença associada, e sim apenas a observação da renovação natural dos fios. “Mais importante do que exatamente contar os fios perdidos é observar mudança no padrão de queda”, enfatiza.

Queda pós-Covid

O aumento das queixas de queda capilar também pode ter se dado em razão do pós-Covid. Mesmo após a superação da infecção do vírus, muitas pessoas relatam que tiveram este problema como um dos reflexos da doença. A dermatologista afirma que, nesse caso, a queda vai ocorrer de 60 a 90 dias, embora afete uma a cada cinco pessoas.

Pesquisas feitas por universidades nos Estados Unidos, México e Suécia, que analisaram mais de 48 mil pacientes, pontuam que a perda de cabelo é o quarto sintoma mais comum, com 25%. Há ainda, pelo menos, sete estudos que abordam relação entre queda de cabelo acentuada e a Covid-19.

Além disso, dados do Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas em Medicina Capilar informam que um terço das pessoas que tiveram o diagnóstico de Covid-19 apresenta perda acentuada de cabelos. Segundo a psicóloga Liliane Ramos, contudo, não existem confirmações se o coronavírus serve como gatilho para quem tem predisposição genética ou se a perda capilar está atrelada aos eventos estressores ou outros desconhecidos.

A dermatologista se refere a este caso como uma queda que acontece por inflamação aguda no organismo. “É uma queda autolimitada que pode ocorrer após a Covid, mas também após outras doenças febris, como dengue e H1N1”, informa.

“A taxa de metabolismo dos folículos pilosos é extremamente elevada, comparável à taxa de metabolismo da medula óssea (que produz células sanguíneas) e qualquer estado que contribua para uma alteração aguda no organismo pode, em tese, interferir no crescimento natural dos fios”, analisa.

Cuidados com os fios e controle emocional

A alimentação balanceada e estilo de vida saudável são fatores importantes para manter o bom crescimento dos fios e a saúde do cabelo, além da saúde do próprio indivíduo.

Alguns hábitos para contribuir na saúde dos fios e do couro cabeludo listados por Acioli são: “evitar dormir de cabelo molhado, não manter os cabelos com excesso de suor e oleosidade, evitar prender os fios por longos períodos, usar o mínimo de química, como tinturas e alisamentos, evitar danos térmicos com chapinha e secador muito quente e pentear com delicadeza”.

O controle emocional é essencial para gerenciar as emoções e, inclusive, para contribuir na saúde capilar. “É super natural acordar ou ficar estressado e de mau humor de vez em quando, porém o que fazemos com isso é o que importa”, aponta a psicóloga.

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