Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) alertam para o risco da volta da poliomielite, também chamada de pólio ou de paralisia infantil, no Brasil. A principal causa que chama atenção dos especialistas em saúde pública é a baixa cobertura vacinal. Em outras palavras, poucas crianças são imunizadas contra este vírus, que pode ter consequências permanentes na vida do indivíduo.
Desde 2015, o Brasil não alcança a meta de imunizar 95% do público-alvo, composto basicamente por crianças. Este é o patamar necessário para que a população seja considerada protegida contra a doença, segundo explica Fernando Verani, epidemiologista da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz).
“Há uma grave possibilidade de a pólio ressurgir no Brasil, como foi com o sarampo, em 2018. Por isso, precisamos chamar a atenção para o risco e para a necessidade de vacinação”, reforça Dilene Raimundo do Nascimento, pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), em nota.
O que é poliomielite?
Vale explicar que a pólio é uma doença contagiosa, causada por um vírus que vive no intestino, o poliovírus. A infecção pode provocar desde sintomas como os de um resfriado comum a problemas graves no sistema nervoso, como paralisia. Este risco é maior em crianças com menos de cinco anos não vacinadas.
Em 1994, o Brasil foi certificado, pela Organização Mundial da Saúde, como livre da poliomielite. Apesar do feito, a vigilância e o incentivo á vacinação devem ser constantes. Afinal, é uma doença evitável, já que existem vacinas seguras e eficientes contra o vírus.
Vacinas contra pólio no Brasil
No Sistema Único de Saúde (SUS), estão disponíveis duas vacinas contra a pólio, a versão inativada (com o vírus “morto”) e a atenuada (com o agente viral enfraquecido). A aplicação delas depende da idade da criança que será vacinada, como podemos observar a seguir:
Bebês de até 6 meses: deve ser aplicada a vacina inativada contra a pólio. No primeiro semestre de vida do bebê, três doses devem ser aplicadas;
Crianças com mais de 1 ano: o reforço é feito com a versão atenuada da vacina, conhecida popularmente como o imunizante da gotinha. São duas doses de reforço.
Apesar da gratuidade do imunizante, a cobertura vacinal com as três doses iniciais da vacina está baixa. Em 2021, a porcentagem estava em 67%, segundo o Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI). No mesmo período, a cobertura das doses de reforço era de apenas 52%.
Em paralelo, a cobertura de outras vacinas também caí no país, como a do sarampo. Neste caso, especialistas também alertam para o caso de novos surtos, como aqueles que já ocorreram em 2018.
Risco da baixa vacinação de crianças
Hoje, o Brasil está livre do vírus da pólio, mas um agente infeccioso não pode ser extinto do mundo, ou seja, ele ainda está em circulação. “Se o vírus for reintroduzido [no país] e não houver uma notificação rápida do caso, podemos ter uma epidemia. Com as baixas coberturas vacinais que temos hoje, as crianças estão desprotegidas. Podemos ter centenas ou milhares de crianças paralíticas como consequência”, explica Verani.
“Enquanto a poliomielite existir em qualquer lugar do planeta, há o risco de importação da doença. É um vírus perigoso e de alta transmissibilidade, mais transmissível do que o Sars-CoV-2, por exemplo. Estamos com sinal vermelho no Brasil por conta da baixa cobertura vacinal, e é urgente se fazer algo. Não podemos esperar acontecer a tragédia da reintrodução do vírus para tomar providências”, completa o pesquisador.