Como a crise climática tem afetado o seu território e como se adaptar a ela? Estas são as perguntas básicas que Gambá e Cospe realizam na Serra da Jibóia (Recôncavo Sul), APA da Bacia do Rio de Janeiro (Oeste baiano), Morro do Chapéu (Chapada Diamantina) e Bacia do Iguape (Recôncavo Baiano). As respostas virão de quem mais sente os efeitos da crise: as comunidades que vivem da terra. Desde março deste ano o projeto Resiliências Climáticas vem realizando visitas aos quatro territórios. Neles, foram apresentadas a proposta do projeto e os marcos históricos globais da questão climática.
Todos os passos do projeto estão sendo acompanhados pelos parceiros da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Estadual da Bahia (UNEB) e Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF). Com isso, espera-se aliar o conhecimento científico e o conhecimento tradicional no enfrentamento a este que é o maior desafio atual da humanidade: o aquecimento global.
Renato Cunha, coordenador executivo do Gambá, destaca a motivação do projeto. “Já estamos vivendo uma emergência climática! Então é fundamental desenvolver iniciativas de mitigação e adaptação. Para isso, é importante conhecer os instrumentos direcionadores – como o Acordo de Paris – e dar suporte, em especial, às populações mais vulneráveis. É o caso das comunidades quilombolas, indígenas, pescadores, pescadoras e marisqueiras, que são os principais públicos do nosso projeto”, detalha.
Foram realizadas visitas em mais de 20 comunidades tradicionais em todo o estado. São territórios nos biomas da Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga e na zona costeira. Em cada atividade foi estimulado que os participantes identificassem as alterações naturais já percebidas e apareceram relatos comuns para diferentes biomas. Um deles é a alteração do período chuvoso, que implica na dificuldade de cultivo de grãos como feijão e milho, além da pesca.
“Antigamente, o rio corria por trás da passagem velha, agora secou. A água subia para mais de meio metro. Nossa vida era pegar piaba, traíra e iuiú. Eu era menino nessa época. O tempo foi virando, as trovoadas ficaram difíceis e o rio foi secando. Isso tem uns 40 anos. Tem ano que você chega aqui e é só o secão, ninguém diz que aqui já teve um rio. Quando as trovoadas batem, o rio volta. Mas ele não é mais perene”, lembra Juca Souza, da comunidade de Passagem Velha, em Morro do Chapéu.
Para Rafael Freire, biólogo e coordenador do projeto, as adaptações às mudanças do clima devem se basear na própria natureza. “Manter a integridade de um ambiente é identificar que os ecossistemas e biomas vieram antes do ser humano. Toda vez que nós interferimos no ecossistema, esse ciclo é quebrado, e a natureza toma um novo rumo. É mais seguro para o ser humano se adaptar em ambientes com integridade ambiental e com serviços ambientais ainda funcionais, com ecossistemas naturais e preservados. Porque temos maior conhecimento sobre eles: o que vai acontecer, os ciclos, os organismos ambientais, características florestais, espécies animais, vegetais e minerais”, explica.
No entanto, manter os ecossistemas íntegros e fazer as adaptações exigidas pela crise climática no modo de vida e produção não depende somente das comunidades. O poder público, através do direcionamento de suas políticas e da regulação do setor empresarial, tem papel fundamental. Por isso, as comunidades serão incentivadas pelo projeto também a aumentar sua incidência política. Ou seja: a capacidade de participar, provocar mudanças e chamar a atenção para o tema das mudanças climáticas.
Uma das estratégias para isso é integrar a rede Convergência pelo Clima, que desde 2019 debate e produz materiais sobre o tema. A Convergência atuava com foco em Salvador e RMS, mas com a adesão de entidades dos 4 novos territórios vai poder tratar do tema a nível estadual.
Mais sobre o projeto Resiliências Climáticas
O projeto Resiliências Climáticas é uma parceria entre Gambá e Cospe, co-financiada pela União Européia. A ideia principal é identificar, no modo de vida das pessoas que vivem em comunidades tradicionais e dependem diretamente dos recursos naturais, conhecimentos passados através de gerações que estão sendo usados na adaptação à mudanças climáticas.
Esse é o saber ancestral que o projeto busca nas comunidades. A partir de então, com a integração ao saber científico trazido pelas universidades UFOB, UFBA, UFRB e UNEB e UNIVASF, pretende-se organizar esses conhecimentos em boas práticas para adaptação à crise climática.
O projeto dura até o final de 2024. Neste período, ocorrerão trocas de experiências entre as comunidades e oficinas para discutir as diretrizes de políticas públicas locais. Ao final, as comunidades integradas à Convergência pelo Clima irão construir e apresentar propostas de políticas públicas, para replicar e ampliar os resultados do projeto.
Sobre as instituições:
Gambá – Grupo Ambientalista da Bahia
Organização Não Governamental que atua desde 1982 na Bahia. O foco está em projetos de conservação de ecossistema, como reflorestamento de áreas, na formação da cidadania e no monitoramento de políticas públicas.
Cospe – Cooperação para o Desenvolvimento dos Países Emergentes
Organização Não Governamental Italiana, fundada em 1983 e atuante em 24 países, incluindo o Brasil. O foco está na busca pela a justiça social, em particular apoiando grupos marginalizados e discriminados em suas demandas por inclusão social, direitos humanos e democracia.
Fonte: correiodachapada.com.br// com informações de Assessoria de Comunicação – Gambá – Grupo Ambientalista da Bahia