Saiba quais são os métodos dos colégios com os melhores desempenhos
Dos 25 colégios da Bahia que obtiveram as maiores notas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2022, 24 são particulares e somente um faz parte da rede pública de ensino. Dados que não são revelados há três anos pelo Ministério da Educação indicam que apenas o Colégio Militar de Salvador, que está em 14º lugar, aparece na lista dos desempenhos mais altos do estado. Entre os dez melhores colégios, todos são particulares e sete estão localizados na capital baiana.
Os dados sobre os desempenhos dos alunos no Enem, principal porta de entrada para o ensino superior do Brasil, foram retirados do Serviço de Acesso a Dados Protegidos (Sedap), do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), pela edtech AIO Educação, entre 31 de julho e 3 de agosto. O CORREIO teve acesso a lista dos 25 colégios mais bem ranqueados na prova dos últimos três anos. O estudo agora está disponível aqui.
De origem mineira e inaugurado há sete anos em Salvador, o Colégio Bernoulli aparece com a maior média de desempenho do Enem na Bahia nos últimos três anos. Em 2022, a média alcançada foi de 718,66. O bom resultado faz com que o colégio seja destaque também no ranking nacional, ficando como 12º melhor do Brasil. Para o coordenador pedagógico Edmundo Castilho, acompanhamento individualizado e simulados com o mesmo método de correção que o Enem ajudam a explicar o desempenho do Bernoulli.
“Nós temos um diferencial que é o analista de desempenho pedagógico (ADP), que são pessoas formadas que acompanham e analisam os simulados feitos pelos alunos”, explica o coordenador. Alunos do ensino médio só são aceitos no Bernoulli mediante resultado em uma prova de admissão. Já nas turmas do pré-vestibular, a prova de seleção não é pré-requisito. A depender do resultado, os estudantes ganham descontos na mensalidade.
Próximo ao Bernoulli, que tem sede na Pituba, estão outras quatro instituições de ensino que aparecem no top 10 de melhor desempenho na Bahia: Leffler (5º), São Paulo (7º), Módulo (8º) e Sartre SEB Itaigara (9º). Todos concentrados no perímetro urbano entre Pituba, Caminho das Árvores e Itaigara. Já o Villa Global Education (3º), fica na Av. Paralela, e o Anglo Brasileiro (6º), em Patamares. Além deles, estão na lista dois colégios de Feira de Santana (Helyos e Acesso) e um de Lauro de Freitas (Mendel Vilas).
Apesar do ranqueamento, os colégios que aparecem nos primeiros lugares não necessariamente ensinam melhor, de acordo com Ana Lorena Bruel, professora do curso de Educação da Universidade Federal do Paraná. Fatores sociais e econômicos, além da remuneração de professores e estrutura física das escolas ajudam a explicar a disparidade entre as redes privadas e públicas.
“Os estudos na área de educação indicam que o nível socioeconômico dos alunos mais explica a desigualdade. Estudantes que estão em famílias de rendas mais altas têm, em geral, mais oportunidade de aprendizagem dentro e fora da escola”, explica. Ana Lorena diz ainda que se o ranking não fosse elaborado a partir de dados individuais, os resultados poderiam ser diferentes.
“Se fizer uma média por dependência administrativa, a maior média é a das escolas públicas federais”, afirma. É o caso do Colégio Militar de Salvador (CMS), único da rede pública que aparece entre os 25 colégios com melhores desempenhos da Bahia. A média geral foi 651,33 no Enem do ano passado. O CMS foi procurado, mas não se manifestou sobre a posição no ranking até a publicação desta matéria.
Questionada sobre o fato de nenhum colégio estadual estar na lista dos 25 melhores desempenhos, a Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SEC) disse desconhecer a metodologia utilizada pela pesquisa. “Independente das notas obtidas, os estudantes da rede estadual estão conquistando cada vez mais acesso ao Ensino Superior e nos mais diferentes cursos de graduação”, pontua. De acordo com a SEC, mais de 3,2 mil alunos da rede estadual de ensino foram aprovados em universidades através do Enem em 2022.
Entre os 25 colégios com os melhores desempenhos estão 10 instituições do interior do estado, além das escolas de Feira de Santana já citadas. São elas: Colégio Leon Feffer II (Mucuri), Colégio Enigma (Barreiras), Instituto Francisco de Assis (Teixeira de Freitas), Centro Educacional Mundai (Porto Seguro), Escola Monteiro Lobato (Luís Eduardo Magalhães), Escola Montessoriana Moranguinho (Cruz das Almas), Colégio Genoma (Teixeira de Freitas), Colégio Genesis (Feira de Santana), Colégio Monteiro Lobato (Nazaré) e Colégio Santo Agostinho (Ipiaú). Confira a lista completa abaixo.
No contexto nacional, alunos de escolas privada tem, em média, redações com 182 pontos a mais do que os estudantes de colégios públicos. A vantagem é a maior calculada desde 2019 e é quase o triplo da verificada nas disciplinas objetivas, que, em 2022, chegou a 67 pontos, o menor patamar dos últimos oito anos.
Métodos
Entre os métodos utilizados pelos colégios particulares para garantir bom desempenho no Enem estão simulados e aulas em horários opostos. Além da criação de um ambiente que estimule os alunos sem, contudo, tensionar a sala de aula. “Os alunos são estimulados a resolver exercícios diversos, fazer simulados, treinar a escrita e otimizar o tempo de estudo”, diz Patrícia Moldes, coordenadora do ensino médio do Helyos, de Feira de Santana.
O Helyos obteve o segundo melhor desempenho da Bahia em 2022, com média de 700,97, e aparece em 41º lugar no ranking nacional. Feira de Santana também abriga o quarto da lista, o Acesso, criado em 2001 como um cursinho pré-vestibular. “Fazemos simulados voltados para o Enem e temos carga horária estendida para suprir o conteúdo de forma prática”, diz Ciane dos Santos, diretora do Acesso. Os dois colégios são os mais procurados por alunos que desejam cursar Medicina na cidade, como Ana Clara Borges, de 17 anos.
No segundo ano do ensino médio, ela já sente o clima de competição entre os colegas. “O próprio colégio incentiva a competitividade. Este ano aumentou por causa das aulas de projeto de vida, quando todos os alunos disseram o que queriam fazer e a grande maioria quer Medicina”, afirma a aluna.
A aposta na continuidade do ensino também é motivo de orgulho para as instituições, como o Colégio São Paulo, que aparece em sétimo lugar com média geral de 662,97. “Nosso alunos, em geral, entram nas primeiras séries e seguem até o ensino médio. Nossos trabalhos pedagógicos são voltados para que no terceiro ano o aluno revise o que foi estudado”, explica Simone Araújo, supervisora do ensino médio.
Para os estudantes, a relação entre professor e aluno também é indispensável para o bom desempenho. “Acho que quando o aluno está inserido em um clima acolhedor em que ele se torna mais confiante em ser ativo na sala de aula”, diz Paula Gonçalves da Silva, 17, que está no terceiro ano do Colégio Sartre SEB Itaigara – nono da lista.
“A pandemia foi um desastre para as escolas particulares”, afirma pesquisador
O período em que os estudantes estiveram fora da sala de aula durante a pandemia afetou diretamente o desempenho dos colégios no Enem. É o que garante Mateus Prado, especialista em Enem e integrante da AIO Educação, que divulgou os dados da pesquisa. Segundo ele, o número de escolas que tinham média acima de 600 caiu pela metade em dois anos.
“Quando pegamos as notas sem a redação, eram cerca de 1.100 escolas com média acima de 600 em 2019. No ano de 2021, esse número caiu para 610 escolas”, afirma. “As escolas privadas foram um desastre na pandemia, elas não funcionaram como deveriam e isso começa a ser percebido a partir de 2021”, completa Mateus Prado.
A diminuição do rendimento dos colégios baianos pode ser medida pela mudança de colocação de parte das escolas nos rankings dos últimos três anos. O Acesso, por exemplo, perdeu 18,86 pontos entre 2020 e o ano passado, caindo da terceira para a quarta posição. O mesmo aconteceu com o Colégio Anchieta, que perdeu dez posições entre 2020 e 2022 – ficando em 19º.
Para Ana Lorena Bruel, especialista em educação, os dados mostram a necessidade de políticas públicas voltadas para os estudantes afetados pela pandemia. “Os adolescentes ficaram sem a interação da forma que a escola promove e isso fez muita diferença para o acesso ao conhecimento”, ressalta.