Jovem vinícola fica a 1.150m acima do mar e tem foco na produção de tintos
Nas terras da Bahia, mais precisamente em Mucugê, na Chapada Diamantina, nascem os vinhos e espumantes da Uvva. O projeto soma 10 anos de investimentos em um terroir que fica a 1.150m acima do mar. O solo é franco-argilo-arenoso. É essa altitude que permite a elaboração de rótulos no clima tropical do estado mais conhecido pela produção de cana-de-açúcar e de cacau. A amplitude térmica na época da colheita é de 25 graus de dia e 8 graus à noite.
— Pelo nosso terroir ser muito distinto, estamos com 1.150 metros de altitude, a gente consegue uma amplitude térmica muito grande no período de maturação. Temos colheita de inverno, com clima seco. A grande identidade dos nossos vinhos é esse frescor que eles trazem, a acidez presente. Os tintos têm taninos muito elegantes e muito maduros, além de complexidade aromática. São vinhos complexos e elegantes, com potencial de guarda — avalia o enólogo Marcelo Petroni, em visita ao Rio para apresentar o projeto e os vinhos da marca.
O CEO da Uvva é o gaúcho Fabiano Borré, que relata que a família toda migrou do Rio Grande do Sul para a Bahia em 1985 em busca de terras.
— Foram meu pai, mais um irmão e meu avô na época. A história do vinho mesmo começou em 2011, quando tivemos uma visita da Secretaria de Agricultura do Estado da Bahia, com profissionais da Embrapa e um grupo de franceses. O governo da Bahia fizera uma visita à França, institucional, para conhecer. Convidaram alguns franceses para virem à Bahia, retribuíam a visita e mapearam algumas regiões do estado para que eles visitassem e talvez pudessem desenvolver o cultivo das viníferas. Nasceu uma ideia de uma parceria público-privada para testar o terroir. Ela nunca aconteceu, então ficamos apenas nós. Plantamos um vinhedo experimental de dois hectares, com inúmeras variedades, já com suporte técnico da Embrapa. E depois começamos a vinificar as primeiras safras com a Embrapa — relata Borré.
Borré detalha que, depois de um período, foi identificada viabilidade técnica para o plantio de videiras. O projeto teve início em 2015 com a construção de uma pequena vinícola:
— E começamos a plantar os vinhedos. Em 2018, nosso enólogo encontrou um Cabernet Sauvignon junto com um Cabernet Franc, o que deu o sinal verde para que o projeto todo fosse implantado, já com vinificações dentro de casa, com equipe técnica formada.
A Uvva tem 52 hectares plantados com vinhedos, 70% de uvas tintas. Os vinhos são vendidos apenas no Brasil:
— Nós começamos a aprender e a entender melhor até qual seria a vocação desse projeto e dos vinhedos no decorrer desse caminho. E vamos lembrar que entre a construção e a abertura tivemos a pandemia aqui no meio. O projeto foi concebido para ser explorado e aproveitado pelos brasileiros. A nossa ideia é que esse vinho chegue aos brasileiros primeiro e, se no futuro não houver mais oportunidade, a gente busca alguma porta de exportação — revela Fabiano Borré.
A marca tem capacidade de produção de 260 mil garrafas por ano. A última safra resultou em cerca de 180 mil:
— No mundo o vinho, ainda somos uma vinícola boutique. Para ter uma ideia, a primeira safra em 2019 foi de 55 mil garrafas. No momento, a própria Bahia e o turista que nos visita são os maiores compradores. Mas nosso e-commerce entrega no Brasil inteiro. Estamos também buscando parcerias — descreve Fabiano Borré.
Tintos são os mais vendidos
Os dois vinhos mais vendidos são dois tintos. O Cordel, que foi o primeiro blend, teve na safra 2019 as variedades Cabernet Sauvignon (65%), Merlot (20%) e Malbec (15%) e obteve 91 pontos do Guia Descorchados, que avalia rótulos da América do Sul. Já o de 2020 teve na composição Syrah (65%), Cabernet Sauvignon (22%), Merlot (12%) e Malbec (1%).
— A partir de 2020, tem a presença do Syrah na composição do Cordel. Ele apresentou a qualidade que esperávamos e passou a compor o nosso Cordel de 2020 em diante. Ele se credenciou a ser utilizado e por isso a mudança de perfil do vinho — detalha o enólogo Marcelo Petroli.
Outro best-seller é o Diamã, também um blend tinto. A safra 2019 teve 92 pontos Descorchados e foi elaborada com Cabernet Franc (40%), Cabernet Sauvignon (20%), Merlot (20%), Malbec (10%) e Petit Verdot (10%). O Diamã 2020 obteve 90 pontos no guia e tem variações com relação à safra anterior: Cabernet Sauvignon (36%), Cabernet Franc (26%), Malbec (23%) Merlot (12%)e Petit Verdot (3%). Estagia por um ano em três tipos de barrica de carvalho francês e passa seis meses em cave subterrânea.
— São cinco variedades que compõem o blend 2020. Temos Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Malbec e Petit Verdot. Todas as cinco variedades são vinificadas em separado em tanques de inox, depois é composto o blend. Seguiu para a estágio em barricas de carvalho com perfis distintos. A proposta do Diamã é sempre mantermos cinco variedades, com variação de percentual entre safras para a gente sempre extrair o melhor de cada uma na construção do blend. Em relação ao Cordel, ele é mais complexo na questão de aromas e com mais estrutura. Tem persistência um pouco maior também na boca — detalha Marcelo.
Segundo o enólogo, o uso da barrica tem que ser muito comedido e pontual:
— E o uso de barricas de segundo, terceiro, quarto uso contribuem muito para isso, para esse aporte com elegância que a gente busca. A madeira não pode sobressair sobre a tipicidade do nosso varietal. É diferente de muitos vinhos comerciais que existem, que o carvalho acaba atropelando e sobressaindo a tipicidade. Nosso projeto é novo, a gente está entendendo o comportamento, mas a tendência é a redução do uso desse carvalho. Ele estará presente, mas de formas menos intensas. E a gente faz um investimento muito pesado na aquisição dessas barricas, para que elas deem um aporte da melhor forma possível.
- Aliança de duas potências da enologia: Conheça os segredos do vinho tinto ícone chileno Almaviva
Também foi apresentado o Sauvignon Blanc 2020, que Fabiano Borré definiu como um vinho com volume de boca, presença de fruta e com frescor:
— O frescor é uma marca da região — detalha o produtor.
O Chardonnay 2022 tem estágio sur lie (com as leveduras), o que aporta complexidade aromática e cremosidade.
— Ele não passa por barricas. É persistente no nariz e na boca — descreve Borré.
Já o Microlote Chardonnay foi elaborado com uvas colhidas em separado e depois vinificadas em barricas de carvalho francês (15%) e em inox:
— A madeira traz elegância para o vinho, ela não se sobrepõe — avalia o enólogo.
- Dois espumantes brasileiros com Moscatel são premiados na França: um rosé na faixa de R$ 25 e um brut
O Microlote Syrah estagiou por 12 meses em barricas de carvalho francês de perfis distintos:
— Ele revela notas aromáticas de pimenta-preta e frutas negras. Não teve uma grande extração. É um vinho com personalidade. Tem acidez presente e integrada — afirma Borré.
Também foram apresentados os espumantes da marca, lançados recentemente. O Extra Brut é fresco, elaborado com 50% de Chardonnay e 50% de Pinot Noir, com 24 meses de amadurecimento. Tem aromas de tosta e avelã, de frutas em calda, além de toques de baunilha e caramelo.
O Nature tem 60% de Chardonnay e 40% de Pinot Noir, com 18 meses de amadurecimento. Apresenta aromas florais e de frutos desidratados, como damasco, além de amêndoas e mel.
Os vinhos podem ser encontrados no e-commerce da Uvva. Os preços são Diamã (R$ 260); Cordel (R$ 215); Extra Brut (R$ 152); Nature (R$ 152); Sauvignon Blanc (R$143); Chardonnay 2022 (R$143); Chardonnay Microlote (R$ 188); e o Syrah Microlote (R$ 188).
- Melhor vinícola do mundo: Confira vinhos da argentina Catena Zapata, conhecida por fazer do Malbec um astro global