A noite de 16 de julho, terça-feira última, recém começava quando chegaram à Unidade de Pronto Atendimento de Irecê (UPA) o pastor Edson F. Silva, sua esposa Irá e Edson Junior, filho do casal. Portador de anemia falciforme, o garoto vinha sentindo dores, comuns durante as crises provocadas pela doença. Dessa vez, Junior reclamava de fortes dores no quadril. Ele já fora atendido diversas vezes na UPA. Sua condição de portador de anemia falciforme também já era conhecida e, como se não bastasse, sua mãe sempre fez questão de alertar sobre medicamentos não suportados.
Após os procedimentos para acolhimento, Edson Junior foi atendido e medicado. Seus pais aguardavam a sua liberação. Sua mãe ficou com ele na enfermaria, enquanto o pai aguardava no interior do carro da família, estacionado na rua em frente à UPA.
Por volta da meia-noite D. Irá foi até o carro e chamou o marido, o pastor Edson. Ela informou que Junior estava bem e que faltava somente a decisão dos médicos sobre os passos seguintes. Pouco depois a mãe do garoto retornou e informou ao marido que o filho deles não retornaria naquela noite para casa: os médicos disseram que era necessário mais cuidados e que ele seria levado para o Hospital Regional de Irecê, inclusive para receber sangue – normal, para quem sofre de anemia falciforme. Até esse momento Edson Junior estava bem.
D. Irá decidiu, já de manhã, ir até a casa da família para pegar algumas coisas de que o filho precisaria a partir daquele momento. O pai, Edson, foi então para o interior da UPA, fazer companhia ao filho. Conversaram bastante, enquanto o tempo passava, e Junior repetiu várias vezes ao pai que estava tudo bem com ele e que apenas sentia fome. “Meu filho não mentia sobre isso”, conta Edson.
Entre as 7h30 e 8h da manhã Edson conta que um enfermeiro foi até o leito do menino e disse que aplicaria uma injeção. Foi a partir daí que a tragédia teve início: o pai conta que viu o filho agitar-se, ficar vermelho e começou a implorar ajuda a ele. Junior queria saber o que é que tinham feito com ele – e isso poucos segundos depois de aplicado o medicamento. Ele espumava pela boca. Instantes depois o garoto caiu ao solo, quando os médicos iniciaram os procedimentos de emergência.
SAMU E MENTIRAS
O pastor Edson estava desesperado ao ver o estado do filho. Ele conta ter concluído que Junior sofreu um ataque cardíaco, pois já havia assistido a algo semelhante ocorrido com uma tia. Médicos pediram para que ele saísse do local onde estavam atendendo Junior. Passado um tempo, um médico procurou Edson e afirmou que seu filho “estava bem”. Pediu para que ficasse tranquilo.
Mais um tempo e Edson viu uma ambulância do SAMU chegando ao local. Imaginou que seu filho seria levado ao Hospital Regional. Como nada acontecia, ele foi até uma janela da UPA, onde viu os médicos tentando reanimar o seu filho com massagem cardíaca. Edson calcula que as tentativas duraram cerca de 40 minutos. Em vão.
Edson Junior, 14 anos, morreu naquela manhã. Procurou a UPA para aliviar as dores que sentia. Chegou caminhando; foi levado já morto. Responsáveis pela UPA sequer orientaram a família a chamar a Polícia Técnica – o que é obrigatório a própria unidade de saúde fazer.
No final daquele dia 16 uma “nota” da Secretaria da Saúde Irecê mais confundiu do que explicou. Não citou nomes, nem horários. Tudo resumiu-se a um “fato ocorrido hoje na UPA”. E a nota acusou as redes sociais de fazerem intrigas. De lá para cá, mais nada. Sequer um contato com família enlutada foi feito. O CREMEB/Irecê está acompanhando o caso. A Polícia Civil abriu inquérito, o prazo é de 30 dias para conclusão.