Gasolina, energia, água… tá tudo subindo e é preciso apertar ainda mais o cinto
O aumento significativo no preço da gasolina, esta semana, foi só mais um elemento complicador na engenharia financeira dos baianos – e especialmente dos soteropolitanos – para fazer o salário caber no mês.
No final de abril, uma das más notícias já tinha vindo de forma enérgica, ou melhor, de forma energética, com o anúncio de reajuste na conta de luz. Agora, o planejamento financeiro de boa parte da população promete descer pelo ralo com o aumento na conta de água, previsto para ser anunciado até o final de semana.
E o que pesa mais no bolso? “Minha filha, é tudo!”, diz a funcionária pública aposentada Vanda Santana, 60 anos. Com o aumento dos combustíveis, Vanda não pestanejou e vendeu o carro que tinha no final do ano passado. Agora, ela utiliza o automóvel da irmã quando é necessário. Os outros gastos, entretanto, ela conta que não tem como cortar ou reduzir.
“Gosto de cozinhar em casa, mas no corre-corre da vida, às vezes, preciso almoçar fora. Eu diminuí muito as saídas porque o preço da alimentação aumentou bastante”, conta ela, que gasta R$ 80 em um almoço com a filha.
“Só o copo de suco dá pra comprar dois centos de laranja”, reclama, já indicando um caminho para reduzir alguma despesa.
Quem quer manter o carro, por exemplo, também pode usar dicas para economizar o combustível. E não é andar no ponto morto. “Nos carros modernos, tirando o pé do carro engrenado você economiza, porque o carro corta a injeção de combustível. No ponto morto ele gasta porque mantém uma quantidade suficiente de combustível para o motor não interromper”, explica o engenheiro mecânico João Loureiro, professor da Universidade Salvador (Unifacs).
“O motorista tem que saber que toda aceleração consome energia; quanto mais constante for a velocidade, melhor para economizar. Tem gente que fica acelerando e tirando o pé do acelerador, e a velocidade inconstante consome energia”, cita.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre março de 2017 e março de 2018, a alimentação fora do domicílio subiu 3,58%, e a refeição (almoço ou jantar) subiu 5,83% em Salvador.
Em menos de 30 dias a energia aumentou duas vezes: foi um reajuste médio de 15,23% em 22 de abril e bandeira amarela acrescentando R$ 1,00 a cada 100 kWh em maio. O combustível aumentou até R$ 0,70 centavos em Salvador no último dia 2. E ainda tem mais.
Quem encarou todos esses aumentos fica nervoso em pensar no reajuste da água, que deve ser divulgado na próxima terça-feira (8).
Entre março de 2017 e março de 2018, o índice geral de variação no preço da gasolina foi de +14,52% e de 18,12% na conta de água. A energia variou em -0,16%. Somente entre janeiro e fevereiro de 2018, o reajuste no combustível foi de 8,55%, e de 2,84% no valor do botijão de gás entre fevereiro e março de 2018. Os dados são do IBGE.
Vem mais
E é bom mesmo apertar os cintos, afinal, com esses reajustes, a tendência é de aumento generalizado nos preços que são repassados ao consumidor, como explica o consultor financeiro Jonatha Souza.
“Todos esses serviços, como a energia elétrica, têm taxas diferentes para pessoas físicas e pessoas jurídicas. Em geral, as empresas pagam uma taxa mais elevada. Como esses aumentos são percentuais, o aumento no valor absoluto final é ainda maior”, comenta.
O servidor público Cleiton Lima, 42, conta que sempre foi atento às contas, mas que a preocupação aumentou no ano passado. “Entre 2017 e 2018, minhas despesas cresceram muito com deslocamento, tanto para o trabalho como para lazer. Quanto à luz, meus hábitos não mudaram, mas mesmo assim houve um acréscimo bastante relevante nas minhas contas”, ilustra.
Ele conta que tem reduzido o consumo para economizar combustível, água e energia. “Meu uso da máquina de lavar, ferro e ar-condicionado tá mais restrito. Também diminuí as viagens pelo litoral e interior, incluindo minha terra natal, Juazeiro”, diz Cleiton, que mora em Salvador, mais de 500 km distante.
Prepara
Se quiser se preparar para os próximos aumentos, o diretor da Agência Reguladora de Saneamento Básico do Estado da Bahia (Agersa), Walter Oliveira, dá uma dica que vale para qualquer recurso.
“A verdade é que todos nós sabemos o que fazer para usar melhor a água. Prova disso é que quando ocorre interrupção no abastecimento, todos adotam medidas econômicas, para minimizar os prejuízos da falta. Mas, basta o abastecimento ser regularizado para voltarmos a usar de forma desregrada. Então, a grande dica sobre consumo consciente de água é essa: use como se estivesse faltando”, comenta, em entrevista ao CORREIO.
E como nada é tão ruim que não possa piorar, não tenha esperança de redução nos preços, como adverte o consultor financeiro Jonatha Souza. “Reduções de taxas geralmente são artificiais e advém de políticas públicas. Os impostos, sim, podem andar para frente ou para trás. As mercadorias não perdem valor, o valor só é agregado. O dinheiro, sim, perde, por isso as mercadorias e os serviços vão ficando cada vez mais caros”, explica ele.
Confira abaixo algumas dicas preciosas de especialistas para economizar combustível, água e energia elétrica
Combustível
Sugestões de João Loureiro, engenheiro mecânico professor da Unifacs
Mais vale um pássaro na mão… – Garanta o combustível com os 10 reais que você tem no bolso ao invés de ficar rodando a cidade atrás de uma oferta. “Vale mais a pena abastecer e depois encher o tanque em um posto mais em conta”, afirma o professor.
Não ande no ponto morto – Ao contrário do que muitos acreditam, é mais vantajoso andar com a marcha engatada e sem acelerar que colocar o carro no ponto morto. “Nos carros modernos, tirando o pé do carro engrenado você economiza, porque o carro corta a injeção de combustível. No ponto morto ele gasta porque mantém uma quantidade suficiente de combustível para o motor não interromper”.
Desligar o ar-condicionado pode aumentar seu consumo de combustível – Boa notícia. Não precisa morrer de calor para economizar combustível – muito pelo contrário! “O sistema de ar-condicionado consome muito pouca energia, não compensa desligar. Se você estiver em via acima 60 km/h, em velocidade constante, não faz diferença ir com ar-condicionado ou não. Para economizar, tem gente que abre a janela do carro, mas assim ele perde aerodinâmica e a aparente economia não compensa. Você não tá gastando menos energia se estiver com a janela aberta”.
Ande em velocidade constante – Nada de correr logo quando o sinal abre, para frear bruscamente no próximo sinal vermelho, ou acelerar e desacelerar constantemente durante o percurso. “O motorista tem que saber que toda aceleração consome energia, quanto mais constante for a velocidade, melhor para economizar. A velocidade inconstante consome energia”.
Não ande com sua casa no porta-malas – Carregar peso em excesso no carro também consome mais combustível – então tire as tralhas do carro para não gastar mais gasolina. “Tem gente que anda com porta-malas cheio, vira depósito, aquilo faz aumentar o consumo”. Será que fazer um regime também ajuda?
Água
Sugestões de Walter Oliveira, diretor Geral da Agersa
Escolha eletrônicos que consomem menos água e energia – Sabe aquele ditado que diz que o barato pode sair caro? Às vezes um equipamento é mais caro no ato da compra, mas vai gerar uma economia de água e energia que vale a pena o investimento. “Escolha equipamentos econômicos. Com certeza vão representar economia de água, o que vai se refletir na conta. Hoje em dia, todos os equipamentos eletro-eletrônicos vêm com selo Procel, que indica o consumo de água e energia. Basta escolher equipamentos com nota A, sempre que possível”
Use como se estivesse faltando – Essa dica vale para todos os recursos! “Todos nós sabemos o que fazer para usar melhor a água. Prova disso é que quando ocorre interrupção no abastecimento, todos adotam medidas econômicas, para minimizar os prejuízos da falta. Mas, basta o abastecimento ser regularizado para voltarmos a usar de forma desregrada. Então, a grande dica sobre consumo consciente de água é essa: use como se estivesse faltando.
Pense no meio ambiente – “Mais que uma questão econômica, o consumo consciente da água é uma questão ambiental. Embora seja um recurso natural renovável, ou seja, está sempre disponível na natureza, a ação humana está tornando cada vez mais difícil encontrar água própria para consumo doméstico. Por isso, é cada vez mais importante preservar este bem, indispensável à vida humana”.
Acompanhe seu consumo diário e peça ajuda em caso de vazamento – O diretor da Agersa ressalta que os vazamentos estão entre as principais causas de desperdício de água e que, muitas vezes, não são aparentes. Por isso é importante monitorar o consumo em sua casa. “Para fazer esse acompanhamento, basta anotar diariamente os números pretos que aparecem no hidrômetro (relógio). Se tudo estiver funcionando bem, a alteração será sempre a mesma, por exemplo 2 unidades por dia: 3545 no primeiro dia, 3546 no segundo, 3547 no terceiro. Quando a família monitora o consumo, é fácil perceber se algo está errado. E avise à Embasa sempre que houver vazamentos”.
Não é demais lembrar – Feche a torneira ao ensaboar pratos, ao escovar os dentes, ao se ensaboar durante o banho… Todo mundo sabe de cor e salteado. Mas você coloca essas dicas em prática? “Reutilizar água, sempre que possível. Evitar lavar a calçada, especialmente com mangueira. Usar a máquina de lavar com o volume adequado de água para a quantidade de roupas”, relembra o diretor da Agersa.
Energia
Recomendações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)
- Tomar banhos mais curtos, de até cinco minutos
- Não deixar portas e janelas abertas em ambientes com ar condicionado
- Colocar cortinas nas janelas que recebem sol direto, para reduzir a necessidade de uso de ventilador ou ar-condicionado
- Diminuir ao máximo o tempo de utilização do aparelho de ar condicionado
- Manter os filtros do ar-condicionado limpos
- Nunca colocar alimentos quentes dentro da geladeira
- Deixar espaço para ventilação na parte de trás da geladeira e não utilizá-la para secar panos ou roupas
- Descongelar a geladeira e verificar as borrachas de vedação regularmente
- Não forrar as prateleiras da geladeira
*Sob supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier