Você tem medo de atender chamadas no celular quando está caminhando na rua ou dentro do transporte público? Saiba que essa insegurança afeta 90% dos nordestinos. Ou seja, nove em cada 10 pessoas da região que possuem smartphone evitam pegar o aparelho quando estão fora de casa.
O risco é real e a sensação de vulnerabilidade, infelizmente, não é paranoia. Entre os nordestinos, 54% já tiveram um celular roubado ou furtado. Os aparelhos móveis fazem parte de uma lista de produtos mais fáceis de ser subtraídos e com maior valor para comercialização.
Dentre os nordestinos, 42% evitam atender a uma chamada no celular em qualquer local e 48% tomam o cuidado “a depender da rua”. Somente 10% declaram que sempre atendem ao celular, independentemente do local.
Os números fazem parte do estudo “Panorama Mobile Time/Opinion Box – Roubo de Celulares no Brasil – Julho de 2019”. O levantamento traz um raio X completo a partir de questionários online enviados a 590 nordestinos e, no total, 2.532 brasileiros. O Nordeste é a segunda região onde mais foram registrados roubos ou furtos de smartphone, ficando atrás apenas do Norte, com 65% dos usuários lesados ao menos uma vez.
Impacto da violência urbana aos menos favorecidos
Apesar de praticamente não haver distinção entre alvos das classes A/B e vítimas das classes C/D/E na pesquisa, a especialista em Criminologia Mariana Possas afirma que os cidadãos com condição financeira favorável acabam tendo mais oportunidades de proteção, seja porque andam menos de transporte público, porque os estabelecimentos que frequentam são mais seguros ou porque moram em bairros “mais organizados e vigiados”.
Na Bahia, por exemplo, os assaltos a ônibus ocorrem diariamente e desencorajam o cidadão de acessar o aparelho dentro dos transportes públicos. Até março de 2019, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) registrou 593 roubos nos coletivos urbanos e em rodovias. No estado, Salvador é a cidade campeã em assaltos. A capital baiana responde por 81,7% dos crimes, com 485 ocorrências nesse período.
“A violência urbana impacta todos os cidadãos e exige mudanças de comportamento. Ocorre que os pobres não têm as mesmas alternativas para contornar a situação. Então acabam sendo vítimas mais frequentes e suas estratégias de proteção pessoal e de seus bens são muito mais limitadas”, explicou.
Insegurança x Mobilidade
A telefonia móvel é assim chamada e se distingue da telefonia fixa exatamente por sua mobilidade. A pesquisa ressalta, no entanto, que quando o usuário têm medo de atender o celular na rua, o aparelho deixa de ser móvel e passa a ser portátil.
O celular é “utilizado somente em ilhas onde a pessoa se sente segura, como sua casa, seu trabalho, dentro de estabelecimentos comerciais etc. A falta de segurança pública afeta diretamente o propósito central do serviço de telefonia móvel e toda a sua infraestrutura”, destaca o estudo.
O medo é maior entre usuários que tiveram smartphone roubado ou furtado no passado. Dentre os nordestinos que passaram pelo sufoco, 58% foram vítimas apenas uma vez, enquanto 29% declararam que tiveram o celular roubado ou furtado por duas vezes. Os mais azarados, 13%, vivenciaram os crimes três vezes ou mais.
Na maioria das ocorrências, o aparelho é tomado à força: 69% informaram que, da última vez, o crime foi roubo, enquanto 31% foram furtados.