Durante pronunciamento em rede nacional na noite desta terça-feira, 24, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a causar polêmica ao comparar novamente a Covid-19 com uma “gripezinha”, criticar a imprensa, atacar governadores por determinarem quarentenas e de pedir o fim do isolamento social, o que chamou de “confinamento em massa” (assista ao vídeo abaixo).
“Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, a proibição de transportes, o fechamento de comércio e o “confinamento em massa”, disse, referindo-se aos governadores. A quarentena tem sido uma das principais recomendações das autoridades de saúde, incluindo o próprio Ministério Federal, para evitar a proliferação do novo coronavírus.
Bolsonaro ainda acusou a mídia de provocar “histeria” na população, afirmando que os veículos de comunicação “espalharam pavor tendo como carro-chefe o grande número de vítimas na Itália”. Ele disse também que a “nossa vida tem que continuar” e que “devemos sim, voltar à normalidade”.
Ao falar das escolas, o presidente disse que a medida era desnecessária devido às informações do perfil mais acometido pela pandemia. “O que se passa no mundo tem mostrado que o grupo de risco é o das pessoas acima de 60 anos. Então, por que fechar escolas? Raros são os casos fatais de pessoas sãs com menos de 40 anos”.
Por fim, Bolsonaro minimizou mais uma vez, os efeitos do coronavírus e disse que os piores sintomas afetariam apenas os mais idosos. Ele chegou a afirmar que caso contraísse o vírus, não precisaria se preocupar porque teria somente uma “gripezinha” graças a seu “histórico de atleta”.
Bolsonaro foi alvo de novos protestos durante o seu pronunciamento. Além de Salvador, moradores de várias cidade do Brasil foram às janelas para bater panelas e pedir a saída dele da Presidência. Até as 17h desta terça-feira, o Brasil já tinha registrado 46 mortes e 2.201 casos de Covid-19.
Secretários de Saúde estarrecidos
Em carta aberta, divulgada na noite desta terça, secretários de Saúde da região Nordeste criticaram o pronunciamento feito pelo presidente, no qual ele ataca governadores e pede o fim do confinamento em massa. No documento, os secretários se dizem “estarrecidos” ao ver o chefe do Executivo negando todas as recomendações para combate à pandemia do coronavírus.
“Percebemos, com espanto, os graves desencontros entre o pronunciamento do presidente e as diretrizes cotidianas do Ministério da Saúde. Esta fala atrapalha não só o ministro, mas todos nós”, diz trecho. (leia a carta, na íntegra, abaixo).
Carta dos secretários de Saúde do Nordeste após pronunciamento do Presidente da República
“Assistimos estarrecidos ao pronunciamento em cadeia nacional do presidente Jair Bolsonaro, onde desfaz todo o esforço e nega todas as recomendações para combate à pandemia do coronavírus.
Não é nosso desejo politizar esse problema. Já temos dificuldades demais pra enfrentar. Não podemos cometer esse erro. Vamos continuar fazendo nosso trabalho. Não nos parece que a posição exposta pelo Presidente seja a do Ministério da Saúde, que tem se conduzido tecnicamente.
Percebemos, com espanto, os graves desencontros entre o pronunciamento do Presidente e as diretrizes cotidianas do Ministério Saúde. Esta fala atrapalha não só o ministro, mas todos nós!
Sabemos que iremos enfrentar uma grave recessão econômica, mas o que nos cabe lidar diretamente é a grave crise sanitária.
Vamos seguir tocando nossas vidas com decisões baseadas em evidências científicas, seguindo exemplos bem-sucedidos ao redor do mundo.
A grande maioria dos países do mundo, ocidentais e orientais, já firmaram seu curso no combate ao vírus e é este curso que o Nordeste Brasileiro seguirá. Que Deus abençoe cada um de nós que pouco temos dormido.
A Tarde