O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) rebateu nesta terça-feira (24) críticas à condução do Censo Demográfico 2022 e afirmou que o levantamento está sendo realizado de “forma transparente”.
Iniciada em agosto do ano passado, a coleta da pesquisa enfrenta atrasos e ainda não foi totalmente concluída. A demora acabou levantando contestações sobre a qualidade das estatísticas.
“O IBGE está realizando o Censo Demográfico 2022 de forma transparente, com vários mecanismos de controle, seguindo rigorosamente todas as etapas necessárias e imprimindo qualidade em todas as fases da operação”, disse o Conselho Diretor do órgão.
“Até o dia 24 de janeiro de 2023, foram visitados cerca de 89 milhões de domicílios e recenseadas 184 milhões de pessoas”, acrescentou.
A divulgação do comunicado ocorre após o jornal Folha de S.Paulo publicar nesta terça uma entrevista com o pesquisador Roberto Olinto, ex-presidente do IBGE. A nota do instituto não chega a citar o nome de Olinto.
À Folha o ex-presidente avaliou que os dados do Censo “não são confiáveis” diante dos problemas que cercaram a pesquisa, incluindo o atraso na coleta e o corte de verba. Ele defendeu uma auditoria nas estatísticas.
Sem a conclusão do trabalho, o IBGE publicou no fim de dezembro uma prévia do Censo, que calculou em 207,8 milhões a população brasileira.
O instituto fez a divulgação devido à necessidade de encaminhar dados populacionais para o TCU (Tribunal de Contas da União). O repasse é necessário para os cálculos do FPM (Fundo de Participação dos Municípios), fonte de recursos das prefeituras.
A metodologia usada, porém, foi alvo de contestações na Justiça de municípios que perderam população com as estatísticas parciais e, consequentemente, receitas do fundo.
Na tarde de segunda (23), o ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), concedeu uma liminar restabelecendo a divisão anterior dos recursos.
“A qualidade da cobertura de um Censo é acompanhada durante a operação, por meio de indicadores do sistema de supervisão e de modernas ferramentas de geotecnologia, inéditas no Censo, além de retorno a campo para verificação in loco”, afirmou o IBGE.
O instituto ainda disse que “todas as críticas publicadas pela imprensa já foram tratadas e discutidas em entrevistas coletivas e individuais promovidas pelo próprio IBGE, sempre comprometido a garantir a máxima transparência institucional”.
O último Censo concluído foi o de 2010. A nova edição estava prevista inicialmente para 2020, mas foi adiada em razão das restrições da pandemia de Covid-19.
Houve novo adiamento em 2021 devido ao corte de recursos no governo Jair Bolsonaro (PL).
A coleta só começou em agosto de 2022, e o IBGE planejava concluir essa etapa em três meses, até outubro. A operação, contudo, já se estende por quase seis meses.
Ao longo da coleta, o IBGE enfrentou dificuldades para contratar e manter os recenseadores em campo.
Parte da categoria, que atua de maneira temporária, reclamou de atrasos em pagamentos e de remunerações abaixo do nível esperado. Houve desistências e ameaças de greve.
SINDICATO DEFENDE ‘RECONSTRUÇÃO’
A Assibge, que representa os servidores do instituto, busca dialogar com o governo federal em prol do que chama de “reconstrução” do órgão.
Na visão do sindicato, os sucessivos cortes de orçamento e a redução do quadro de funcionários ameaçam atividades do IBGE.
Conforme a entidade, o instituto tinha 6.971 funcionários efetivos em dezembro de 2010, ano do último Censo concluído. Em igual mês de 2022, diz o sindicato, esse número era de 4.009, uma queda de 42,5%.
A redução reflete a aposentadoria de servidores e a falta de concursos para reposição do quadro, avalia Bruno Perez, diretor da executiva nacional da Assibge.
A equipe menor, diz Perez, também dificultou o avanço do Censo, porque a contratação de funcionários temporários aumenta a carga de trabalho interno, em áreas como a de recursos humanos, que lida com o pagamento dos profissionais. No início da pesquisa, o Censo tinha cerca de 180 mil vagas abertas para recenseadores.
“É necessário reconstruir nesse sentido. Não conheço ninguém que ache que não é necessário fazer novos concursos. Temos esperanças, mas sabemos que existem amarras fiscais”, relata Perez.
Em 2023, excluindo verbas para o término do Censo, o orçamento previsto para o IBGE é de R$ 2,4 bilhões, em torno de 25% abaixo do verificado em 2014, em termos reais (descontada a inflação), segundo a Assibge.
TROCA NO COMANDO DO IBGE
O instituto tenta avançar no Censo sob a presidência interina de Cimar Azeredo, diretor de pesquisas do órgão. O economista Eduardo Rios Neto foi exonerado do cargo de presidente no início de janeiro.
No governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o IBGE está sob o guarda-chuva do Ministério do Planejamento, comandado por Simone Tebet.
A ministra ainda não anunciou quem ficará à frente do instituto. Uma das possibilidades, apurou a reportagem, é a permanência de Azeredo no cargo interino até a conclusão do Censo, prevista para o primeiro trimestre deste ano.
O Planejamento avalia o assunto e ainda não tem uma posição oficial.
Fonte: Politica Livre