PM Gouveia foi ao ar em um canal do You Tube em fevereiro deste ano, em um programa batizado de “Enquadros mais gentis do Brasil”
São Paulo – O sargento Cláudio Henrique Frare Gouveia (foto de destaque), que na segunda-feira (15/5) matou dois colegas de farda dentro do quartel da Polícia Militar (PM) em Salto, interior de São Paulo, foi considerado um dos policiais mais gentis do Brasil em um canal do You Tube que divulga boas práticas no trânsito.
Gouveia foi ao ar no canal Bold Crazy em fevereiro deste ano, em um programa batizado de “Enquadros mais gentis do Brasil”. Na gravação, o sargento da Polícia Militar aborda um motociclista em uma blitz.
“Senhor, está sendo desencadeada a Operação Rodovia Mais Segura em todo o estado de São Paulo, simultaneamente. Desce um pouquinho, põe no pezinho e apresente o documento do senhor”, disse com calma.
O militar também pergunta o que o entregador carrega na moto e pede os documentos: “Marmita e bolo”, responde o motociclista ao descer do veículo. Ao final, Gouveia agradece e diz: “Vai com Deus”.
A abordagem foi registrada por uma câmera acoplada ao capacete do entregador. Dezenas de comentários na postagem elogiam o militar. “Esse policial tem meu completo e absoluto respeito. Policial digno e exemplar. Que pena que nem todos são assim tão simpáticos”, diz um deles.
Veja o vídeo:
O vídeo recente destoa do comportamento violento do sargento na última segunda. Ele chegou à 3ª Companhia do 50º Batalhão de Polícia Militar do Interior com um fuzil 556 e pediu para que todos os policiais saíssem da unidade, alegando que se tratava de um treinamento.
Em seguida, trancou a porta e foi até a sala do capitão Josias Justi da Conceição Júnior, seu comandante, e abriu fogo. O sargento Roberto Aparecido da Silva, que despachava documentos com o superior no momento dos disparos, também foi atingido.
Segundo o advogado de defesa de Gouveia, Rogério Augusto Dini Duarte, ele usou um pente inteiro e parte de outro, fazendo 23 disparos. Josias e Roberto morreram na hora.
Vida conjugal afetada
Duarte disse que Gouveia se sentia perseguido pelo comandante e estava com a “vida conjugal afetada”. De acordo com o defensor, a mulher do militar servia na mesma unidade e os horários de ambos coincidiam, o que atrapalhava nos cuidados da filha pequena e no dia a dia do casal.
“Parece coisa boba, mas não é. Isso interfere na vida da família, do casal… Como os dois serviam na mesma unidade, o comando deveria levar em consideração, dialogar, tentar resolver o problema, e não impor. Será que não dava para remanejar a escala de um deles?”, questiona Duarte.
Gouveia se entregou logo após o crime. Josias e Roberto foram enterrados em Sorocaba (SP), na terça-feira (16), em clima de bastante comoção.
O caso é investigado pela Corregedoria da Polícia Militar. Em nota, a PM lamentou o episódio e afirmou que “todas as providências de Polícia Judiciária Militar estão em andamento”.
“É com extremo pesar que a Polícia Militar informa que, nesta segunda-feira (15), por volta das 9h, dois policiais militares foram atingidos por disparos de arma de fogo efetuados por um sargento da instituição por razões ainda a serem esclarecidas. (…) Infelizmente, as vítimas entraram em óbito.”