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Meio Ambiente é celebrado em meio a preocupações com sustentabilidade

Especialistas revelaram necessidades e desafios para aliar crescimento com consumo de energia limpa

O Dia Mundial do Meio Ambiente é celebrado nesta segunda-feira, 5. Diante da necessidade de avanços na sustentabilidade com o desenvolvimento econômico e social, empresas públicas e privadas revelam os desafios de  aliar o crescim ento com o consumo de energia limpa, além do papel da sociedade neste cenário.

Em entrevista ao Portal A TARDE, a empresa Bracell, responsável pela produção de celulose solúvel e celulose especial, que tem sede em Camaçari, reforçou a importância de manter a sustentabilidade como uma ferramenta aliada ao crescimento financeiro e profissional da marca. De acordo com a organização, medidas sustentáveis fazem parte da rotina produtiva, além de cuidados com comunidades próximas e ao meio ambiente.

“A nossa operação é livre do uso de combustíveis fósseis, capaz de produzir fibras renováveis, a partir do plantio sustentável de eucalipto, e fornecer energia limpa para o GRID nacional suficiente para abastecer uma cidade de 3 milhões de habitantes”, disse Márcio Nappo, vice-presidente de Sustentabilidade e Comunicação Corporativa da Bracell.

Além do trabalho realizado no ambiente profissional, a marca contribui para a informação dos trabalhadores a respeito do tema. “Temos um compromisso com o desenvolvimento sustentável e todos os nossos colaboradores carregam essa filosofia, pois está no DNA da empresa. Investimos em programas voltados à pesquisa e à proteção de recursos naturais, além de atuar com o intuito de aumentar os efeitos positivos das operações e minimizar impactos negativos”, conta.

Recentes estudos realizados por pesquisadores do meio ambiente colocam a Terra em uma busca emergencial pela sustentabilidade. O desafio de transformar um contexto desfavorável em medidas que desaceleram a degradação do planeta tem sido pauta de debate entre diferentes setores da sociedade e de reunião de países interessados em contribuir com as transformações.

O vereador André Fraga (PV), presidente da Comissão Especial de Emergência Climática e Inovação da Câmara Municipal de Salvador, disse ao Portal A TARDE que só existe uma saída para que o futuro do planeta seja garantido: desenvolvimento aliado aos cuidados do meio ambiente.

“Não há outra saída mais que não seja aliar as duas coisas. Qualquer opção, qualquer caminho que seja apartado do desenvolvimento com meio ambiente tende a ser um fracasso. As economias do mundo estão todas se adaptando, seja na nova matriz energética, nas novas formas de se locomover. Qualquer outro caminho é um caminho que vai nos levar ao precipício. O planeta tem sentido os efeitos, os custos econômicos dos eventos são cada vez maiores e eles têm afetado as economias. Imagina quanto que está se gastando para tentar impedir os grandes incêndios florestais, grandes temporais, chuvas, deslizamentos”, aponta.

Entre as principais preocupações do vereador com o Brasil está a falta de saneamento básico. Para Fraga, o país tem potencial para ser um dos líderes globais na área da sustentabilidade.

“Aliar gerando emprego, renda, reduzindo desigualdade. Investir em saneamento é investir no meio ambiente, o Brasil precisa muito de saneamento, porque tem um impacto para a saúde das pessoas, na qualidade de vida, na empregabilidade, na economia de forma geral. Se você investe pesadamente em saneamento, você está investindo em meio ambiente e em desenvolvimento. O Brasil tem esse potencial e precisa acordar para a vida”, destaca o vereador.

Diante de medidas questionáveis do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o retorno de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contribuiu para a recolocação do Brasil entre os países que discutem pautas sustentáveis ao meio ambiente. Fraga destacou que essa diferença de comando é importante, mesmo que o governo seja composto por diferentes interesses.

“O governo Lula tem se colocado diferente do governo Bolsonaro, que era uma negação nesse assunto, seja pela escolha da ministra do meio ambiente, do presidente do Ibama, que são pessoas extremamente comprometidas com a agenda. O governo Lula é um governo também de coalizão, então tem vários interesses conflitantes. Para o mundo, você botar petróleo e Amazônia na mesma frase é péssimo. Se o Brasil quer de fato ser um líder global na pauta ambiental e talvez seja a única pauta que o Brasil tem condições de ser líder global, junto com a agricultura, não dá para botar petróleo e Amazônia na mesma frase. Há uma boa vontade, mas tem o desafio de conseguir aliar política, a técnica, os interesses, porque não é simples”, avalia.

O ativista Francisco Athayde, presidente do Parque Ecológico Pequeno Mundo Verde, situado em Camaçari, falou sobre a importância da sustentabilidade como consequência de trabalhos individualizados. Ele deu algumas dicas para a população sobre as formas de consumo e o cuidado com reciclagem, reaproveitamento de água da chuva e como reduzir os impactos para o meio ambiente no dia a dia.

“A questão da sustentabilidade, eu acho que hoje é o mínimo que a gente pode fazer. Por mais que a gente não entenda assim, mas quem já vive isso no dia a dia, tanto na prática, como ensinando, e percebe os impactos pra vida, de forma geral, para as pessoas, para os animais, para a natureza, a sustentabilidade é o mínimo que a gente pode fazer, em contrapartida, tudo que a gente tem de maravilhoso que nos foi dado, a natureza. Eu vivo a prática aqui, meu material para reciclagem eu separo e levo na cooperativa, minha casa e fiz de uma forma ecológica, eu vivo na prática isso”, conta.

Entre as principais formas individuais de contribuir para a sustentabilidade está o veganismo. Para Athayde, a medida é pensada para proteger os animais, que junto com o ser humano e o meio ambiente compõem três pilares fundamentais.

“Eu sou vegano, acredito que o veganismo é pelos animais, mas o benefício para a sustentabilidade é claro. A gente hoje não tem como negar o impacto positivo da não participação na derrubada das florestas, da morte dos animais, da morte de índios quilombolas pelo impacto da pecuária, pelo gasto de água, pela contaminação de solo, enfim, pela sustentabilidade de forma geral. Vejo a sustentabilidade hoje como uma coisa que toda criança e jovem deveria aprender nas escolas, para que possa ser praticado de uma forma natural”, frisa o ativista.

Meio Ambiente é celebrado em meio a preocupações com sustentabilidade
Meio Ambiente é celebrado em meio a preocupações com sustentabilidade|  Foto: CARL DE SOUZA | AFP

 

Athayde destaca que hoje em dia a informação ficou mais fácil de ser consumida. Ele cita que além da educação, é fundamental buscar o conhecimento a respeito de sustentabilidade para contribuir com o meio ambiente.

“Eu acho que a gente tem dois caminhos, um caminho é a gente não considerar a natureza, não considerar o meio ambiente, não ser uma sociedade sustentável e ter toda a resposta no sofrimento que vai existir. Se a gente destrói tudo a gente vai sofrer, esse é um caminho. Tem o outro caminho, da sustentabilidade de uma forma mais consciente, considerar a natureza, o mínimo que a gente pode fazer. A gente vive num processo mecânico e não dá atenção às nossas ações, do nosso dia a dia, o que leva de impacto. Temos dois caminhos, basta a gente escolher e ter a resposta em relação a isso”, projetou o ativista.

Francisco Athayde aproveitou a oportunidade para pedir mais participação da população em projetos ecológicos, que visam a sustentabilidade como principal objetivo.

“Eu sinto a ausência da participação das pessoas em projetos ecológicos, de apoio mesmo, de compartilhar, divulgar, incentivar. Projetos como esse precisam muito disso, vão na contramão de todo o processo, então a gente, de uma certa forma, tem um público menor. As pessoas deveriam participar desse processo e a gente acaba tendo que entrar pelo viés do tráfego pago, de campanhas de publicidade”, argumenta.

A bacharel em biologia Luna Santiago não concorda com a ideia de que apenas esforços humanos são necessários para mudar o mundo. Ela acredita que o capitalismo tem responsabilidade na degradação do planeta e que para que a sustentabilidade seja alcançada, é necessário que a forma de consumo seja diferente da atual.

“Eu tenho uma visão um pouco pessimista sobre essa questão de sustentabilidade, de energia limpa, consumo sustentável. Eu acho que o problema não está em usar o que o meio ambiente oferece como produto, o problema está no nosso modelo de consumo. As pessoas enxergam tudo como produto, a sensação que eu tenho é que as pessoas não se veem como parte desse meio, tudo é uma oportunidade de virar dinheiro. Não acho que seja impossível, mas qualquer coisa que a gente como indivíduo faça vai ser um passo muito curto em uma caminhada muito longa”, aponta.

Ela reconhece que o esforço individual é importante, mas critica medidas que vão além do indivíduo, fazendo com que ações de pessoas conectadas com o bem do meio ambiente virem coisas “muito pequenas”.

“Acho que é um caminho longo, não acho que é o único caminho, mas é para garantir qualidade de vida para a gente, para outras espécies também, garantir recursos e garantir isso por mais tempo. Como se fosse garantir a estadia da nossa espécie pelo tempo que tiver que ficar no planeta com mais qualidade”.

Luna Santiago também criticou a forma de pensar da população em alguns aspectos e afirmou que é necessário desmistificar discursos.

“A gente pensa muito pequeno e tem umas ilusões que eu acho que a gente tem que desmistificar. Não existe energia limpa, aquelas estações de energia eólica causam impactos, o que a gente fizer vai causar impacto”, finalizou.

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