Na Semana Nacional do Trânsito, especialistas relatam a necessidade de buscar ações de reparação
Com o retorno da rotina após o período da pandemia, especialistas da área notam uma retomada do aumento de acidentes de trânsito em relação ao anos da pandemia em que o número de veículos e pessoas nas vias diminuiu consideravelmente. No início da Semana Nacional do Trânsito, ontem, levantamento da Superintendência de Trânsito do Salvador (Transalvador) mostra que o número de acidentes com feridos e mortos de janeiro a julho deste ano na capital baiana já segue uma tendência semelhante ao ano de 2019.
Em 2019, aconteceram 130 acidentes com vítimas fatais e 4.073, enquanto neste ano, até julho, foram 55 com mortes e 1.891 com feridos. Um número que já ascende um alerta em relação aos 122, 115 e 107 com mortes e 2.638, 2.624 e 2.876 com feridos, respectivamente, em 2020, 2021 e 2022. O presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (ABRAMET), Antônio Meira Junior, concorda que está havendo um aumento de trânsito porque as pessoas estão mais expostas ao risco.
“Durante a pandemia, houve uma redução não porque diminuiu o risco, que sempre existe, mas diminui a exposição desse risco com mais pessoas em casa e menos veículos circulando. Também teve acidente porque não havia muita fiscalização, com as pessoas abusando da velocidade e das outras coisas. Provavelmente, as pessoas voltaram a circular e a desrespeitar as leis de trânsito”, comenta Antônio.
le acrescenta que a maioria dos acidentes de trânsito são causados pelas pessoas e passíveis de prevenção. Por isso, é necessário o respeito às leis de trânsito que combatem o abuso da velocidade, o dirigir sob o uso de álcool e drogas e o não uso do sinto de segurança ou do capacete, segundo Antônio.
Já o especialista em trânsito e professor da Escola Pública do Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN), Tenente-Coronel Genésio Luide Souza, concorda que houve uma redução do número de acidentes nas capitais e nas rodovias por consequência da circulação de veículos e da mudança de hábitos em relação ao uso do transporte. Porém, o cenário, agora, está sendo o inverso do esperado com pessoas mais estressadas e apressadas em virtude também do período pandêmico.
“Estamos preocupados porque se pensava muito no efeito da humanização com a pandemia, mas está se vendo um cenário contrário em um trânsito mais caótico. A pandemia foi um evento que trouxe um cenário de depressão e outros traumas. Isso tem se demonstrado no trânsito com pessoas que surtam. É todo um cenário, inclusive com a renovação da carteira e seus respectivos exames a cada dez anos, que favoreceu a retomada do aumento das estatísticas de acidentes de trânsito”, afirma Luide.
Ele acrescenta que outros cenários, como o aumento de motoristas por aplicativo, tanto de carro quanto motocicletas, que estão sempre buscando chegar mais rápido aos destinos como fonte de renda, agravaram a situação. Um dos principais seriam os entregadores, em que ambos os especialistas aproveitam a Semana Nacional do Trânsito para lembrar a preocupação com os grupos dos mais vulneráveis de motociclistas, ciclistas e pedestres. Eles são menos visíveis e competem com veículos motorizados e de maior proteção em vias que não se adequam a eles, precisando também ter responsabilidade e segurança.
“Essa busca da retomada da economia está colocando as pessoas a aumentar a sua produtividade, que tem consequência no trânsito. Essa semana tem esse objetivo com os órgãos intensificando as ações educativas e de fiscalização para fazer com que, neste momento, mudem os comportamentos para mais seguros no trânsito”, pontua o coronel.
Esse é o caso do motorista por aplicativo há cerca de 10 anos, Paulo Roberto Vianna, que tem acompanhado rotinas mais estressantes no trânsito com engarrafamentos, batidas e pessoas que não cumprem as regras corretamente. “Tem dias que é um estresse só. Nunca me envolvi em algum acidente grave trabalhando, apenas uma vez ou outra batidas simples por falta de noção das pessoas mesmo. Todo mundo acha que pode fazer tudo. O que mais tenho visto são batidas e acidentes no dia a dia”, relata.
Para resolver o problema, os especialistas têm solicitado ao órgãos públicos, além da conscientização da população, foco nessas ações educativas, de formação de bons condutores e de fiscalização e de ajustes em velocidades e sinalizações nas vias, inclusive com maiores punições. Como os acidentes de trânsito podem ser multifatoriais, Antônio aponta a necessidade de, ao invés de achar um culpado, buscar soluções efetivas.
“Não tem uma ação milagrosa. É uma junção de fatores. Precisa que os governantes priorizem a redução dos acidentes por ser a segunda causa principal de mortes não natural e de sequelas na Bahia. Precisamos pensar em projetar as vias e os veículos pensando no erro humano e respeitando o Código de Trânsito Brasileiro. A impunidade do trânsito impera e faz com que a pessoas se sintam à vontade de cometê-los novamente. Por isso, é importante ter campanhas de conscientização permanentes”, finaliza Antônio.
Seguindo nesta tendência, o superintendente da Transalvador, Décio Martins, destaca que o órgão está envidando todos os esforços para reduzir o número de acidentes, sobretudo de vítimas fatais e feridas, na capital. No entanto, trazendo a importância de comparação deste ano com os de 2019 e 2022 por causa da pandemia, a projeção estatística para este ano é de redução, seguindo o pacto com a Organização das Nações Unidas (ONU).
“Considera-se que, na verdade, todos os esforços empreendidos pela Prefeitura de Salvador têm gerado resultados. Destaco nossa preocupação, principalmente com os motoristas. É um trabalho intersetorial de readequação das velocidades das vias, de educação, de fiscalização e de transformar novas vias na cidade. Com isso, nós conseguiremos continuar reduzindo o número de acidentes”, comenta Décio.
Sobre as estratégias, relata exemplos de redução de acidentes em 14 vias da cidade com a readequação da velocidade, como na Av. Luís Eduardo Magalhães, de 80km para 70km, reduzindo em números absolutos 50 acidentes e 50% em números proporcionais após um ano. Além disso, relata também a realização de ações socioeducativas e de fiscalização.
“As principais causas de acidentes no trânsito são a velocidade, a ingestão de álcool e direção e o uso do celular. Isso demonstra que nossa estratégia foi acertada. Nós, neste ano, já readequamos também as velocidades das avenidas Pinto de Aguiar e Orlando Gomes, de 70km para 60km, tomando como base, obviamente, a ocorrência de acidentes. Em todos os locais que readequamos, há a redução de acidentes e a gravidade quando ocorrem. Hoje, por exemplo, estávamos nas principais faixas da cidade para poder conscientizar os motoristas e os pedestres também”, finaliza o superintendente.