Após quase 40 anos de decadência, a demanda pelo produto tem aumentado nos últimos anos, devido à valorização de itens naturais e pressões pela preservação ambiental em todo o planeta.
A Bahia é o principal produtor de sisal do mundo, detém 90% da produção do Brasil, o país que mais cultiva a agave no planeta, de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). No estado, são produzidas, em média, 140 mil toneladas de fibras de sisal por ano, e cerca de 50% desse total é vendido para Ásia, Europa e, principalmente, para a América Central.
O “ouro verde do sertão” teve seu apogeu entre as décadas de 60 e 70, quando havia grande demanda internacional pela fibra, utilizada na confecção de cordas, fios, estofados, carpetes e tapetes, entre outros produtos. O mercado declinou nos anos 80, com a concorrência das fibras sintéticas, e nunca mais teve o mesmo sucesso do passado.
Até mesmo a área plantada encolheu, não somente porque a fibra perdeu valor de mercado, mas também porque a seca na região dizimou boa parte das plantas, conhecida mundialmente pela resistência à estiagem.
Na Fazenda Pau de Colher, em Valente, área de plantação virou ‘cemitério de sisal’ há seis anos — Foto: Henrique Mendes / g1
A fibra tem voltado à moda com a valorização dos produtos ecologicamente corretos e também com a pressão mundial para preservação do meio ambiente. Além de natural, quando descartada, a fibra de sisal se decompõe sem poluir a natureza – e ainda serve como adubo para o solo – ao contrário da sintética. Depois que a palha é cortada, a planta rebrota em seis meses, o que ajuda a manter o semiárido em equilíbrio.
Nos últimos anos, decoradores e arquitetos passaram a utilizar o sisal em projetos com maior frequência, e a demanda pela fibra tem sido crescente, não somente no Brasil, mas também no exterior.
Atendendo a essa tendência, a principal entidade representativa da cultura do sisal no país, a Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira (Apaeb), manufatura a fibra e dá origem a mercadorias como carpetes, tapetes e cordas.
“No passado, a gente só fazia batia o sisal no motor e exportava. Hoje em dia, tem o beneficiamento. Isso gera oportunidade de trabalho. A cada emprego que a gente gera aqui, são oito no campo para fazer a fábrica funcionar. Antigamente o sisal nem era classificado, hoje temos três tipos diferentes. O tapete é o tipo 1 e quanto mais clarinha a fibra, maior o valor do sisal”, disse o presidente da associação, Jairo Oliveira, em entrevista para a TV Bahia.
Fibras de sisal produzidas na Bahia — Foto: Reprodução/TV Bahia
A sede da Apaeb fica em Valente, município a cerca de 250 km de Salvador que pertence ao “território do sisal”. São 20 cidades e cerca de 700 mil pessoas envolvidas, direta ou indiretamente, com a produção, comércio ou industrialização do sisal.
A Apaeb compra boa parte da produção regional (800 toneladas mensais, em média) e transforma em itens cujas vendas, atualmente, estão concentradas no Brasil – sobretudo no estado de São Paulo, que reúne as maiores redes de distribuição dos manufaturados. Outra parte é repassada para o mercado internacional.
Um dos países que compra tapetes feitos com sisal da Bahia é a Alemanha. A pequena cidade de Dorsten, que tem forte tradição na área têxtil, valoriza o fabrico artesanal e defende marcas preocupadas com a questão ambiental.
Lá, a reportagem da TV Bahia ouviu o advogado Gregor Von Steinhaousen, um fã dos tapetes de sisal, que já adquiriu diferentes exemplares. “O visual é fantástico, me agrada muito. Gosto da ideia de usar em minha casa, especialmente porque tenho crianças em fase de crescimento. E também não uso nada que polua o solo ou o ar”, contou.
Apaeb fabrica tapetes, carpetes, cordas e outros produtos com a fibra do sisal — Foto: Reprodução/TV Bahia
A declaração do alemão reforça o discurso do presidente da Apaeb. “A qualidade dos tapetes, carpetes e capachos e a preocupação com a preservação do meio ambiente impulsionam o nosso crescimento”, afirmou Jairo.
A associação possui modernos teares, com capacidade para produzir até 100 mil metros quadrados de tapetes e carpetes por mês. A fábrica funciona diariamente e gera cerca de 250 empregos diretos.
A estrutura contrasta com a rusticidade da produção de sisal no campo. A colheita é manual, a fibra é transportada no lombo de jumentos e desfibrada com um equipamento antiquíssimo, que já causou incontáveis mutilações na região.
Do plantio às lojas, conheça todo o processo do sisal
Unidade fabril da Apaeb em Valente, no interior da Bahia — Foto: Reprodução/TV Bahia
- A colheita é realizada manualmente por trabalhadores utilizando uma faca;
- Em seguida as folhas de sisal são transportadas no lombo de um animal até o local onde se encontra o motor desfibrador (ou “motor paraibano”, como é conhecido);
- No desfibramento remove-se a parte verde da folha, restando a fibra em estado úmido;
- Já desfibradas, as fibras em estado úmido são levadas e estendidas nos varais, permanecendo sob a luz solar por um período de 72 horas para que ocorra o processo de secagem uniforme;
- Após a secagem, a fibra deve apresentar umidade entre 10 e 13 %, esse é um dos parâmetros avaliados na compra do sisal;
- Na sequência, as fibras são enfardadas e transportadas pelos agricultores até a unidade de beneficiamento;
- Nesse momento, são classificadas em função do tamanho e qualidade e, em seguida, são submetidas ao beneficiamento, utilizando a máquina conhecida como “batedeira”, onde são removidas as impurezas aderidas às fibras, deixando-as com aspecto brilhoso;
- Após essa etapa, as fibras são organizadas em fardos de aproximadamente 250 kg, identificados segundo normas do Ministério de Agricultura e Abastecimento e comercializados para outros estados ou para o mercado internacional;
- Ainda na indústria, a fibra de sisal é transformada em diversos tipos de fios, cordas, tapetes, capachos, mantas e mais;
- Uma pequena quantidade de fibra é destinada às cooperativas ou associações de artesanato de sisal, que criam bolsas, descansadores para panelas, porta-joias e muito mais.
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Manejo do sisal na Bahia ainda é muito primitivo — Foto: Reprodução/TV Bahia
- O sisal (Agave sisalana pierre) é originário do México e foi introduzido na Bahia, mais especificamente, no município de Santaluz, por volta de 1910;
- O produto se espalhou por outras cidades e passou a ser explorado comercialmente no fim da década de 30, ganhando destaque no cenário mundial nos anos 60;
- Santaluz foi a primeira cidade a investir no plantio em grande escala para a comercialização e contou com as maiores batedeiras de sisal da Bahia entre os anos 60 e 90;
- Atualmente, as principais as principais batedeiras estão em Conceição do Coité;
- O ciclo de transformação do sisal em fios naturais tem início aos três anos de vida da planta, ou quando as folhas atingem até cerca de 140 cm de comprimento, que podem resultar em fibras de 90 a 120 cm;
- As folhas são cortadas a cada seis meses durante toda vida útil da planta, que é de 6 a 7 anos;
- O sisal pode ser colhido durante todo o ano, basta não destacar do caule as folhas mais novas;
- Resistente à aridez e ao sol intenso do sertão, o sisal é a fibra vegetal mais rígida que existe na natureza;
- Atualmente a Tanzânia, Quênia, Uganda (África Oriental), além do Brasil, são os maiores produtores de sisal do mundo.
g1