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Dia do Protetor de Florestas: Saiba como é o trabalho dos guardiões da Chapada Diamantina

No dia 17 de julho, é comemorado o Dia do Protetor das Florestas, uma data que homenageia aqueles que dedicam suas vidas à preservação da natureza. No folclore brasileiro, o Curupira é o guardião das matas, um ser mítico criado pelos povos indígenas. No entanto, há muitos “Curupiras” da vida real, como biólogos, ativistas e ambientalistas, que trabalham incansavelmente para proteger as florestas do Brasil.

Para compreender como os protetores das florestas vivem, o BNews conversou com Joás Brandão, 60 anos, uma figura icônica, residente no município de Palmeiras, que dedica a vida a defender a natureza. A reportagem conversou, ainda, com a Bióloga Iara Macêdo, 32, uma mulher determinada, que desde a infância carrega em si o desejo de transformar o mundo através do estudo. Ambos são ativistas na região da Chapada Diamantina.

Chapada Diamantina

Um dos principais focos de preservação ambiental no Brasil é o Parque Nacional da Chapada Diamantina, localizado na Bahia. Inserido nas Reservas da Biosfera da Caatinga e da Mata Atlântica, o parque abrange 150.000 hectares e possui uma grande diversidade ecológica e ambiental. Este espaço natural e único inclui três biomas brasileiros: Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica. A Chapada Diamantina também protege uma parcela da Serra do Sincorá, parte norte da Serra do Espinhaço, cadeia montanhosa que divide os estados de Minas Gerais e Bahia.

Guardião do Morro do Pai Inácio

Joás Brandão percebeu a necessidade de cuidar da natureza ainda criança. Aos 12 anos, ele já observava o desmatamento para plantações e se preocupava com o futuro. “Eu comecei a explicar para eles que quando você desmata, você tira a vida. E quando você queima, você mata o solo,” relata Joás. Ele argumentava que havia outras maneiras de plantar sem destruir a floresta, um conceito que hoje é conhecido como permacultura.

O Guardião do Morro do Pai Inácio enfrentou diversos desafios, sendo o garimpo mecanizado um dos mais marcantes. “Eu via os nossos rios morrendo, as nossas matas ciliares morrendo, e as pessoas não tinham consciência nenhuma do que seria isso no futuro,” ele lembra. Brandão foi um dos primeiros a denunciar o garimpo, enfrentando ameaças e incompreensão, mas ele tinha a convicção de que estava fazendo a coisa certa.

A luta contra o garimpo trouxe consequências sociais, como a necessidade de encontrar alternativas para o pastoreio. Brandão e sua equipe de voluntários, sugeriram a criação de capineiras e a plantação de palma para alimentar o gado, uma tentativa de minimizar os impactos ambientais.

Hoje, a Chapada Diamantina possui brigadas bem equipadas e treinadas para combater incêndios florestais, fruto do trabalho incansável de Joás e seus companheiros. “Nós estamos lutando aqui para que o incêndio na Chapada seja incêndio zero,” declara Joás. Ele acredita que a prevenção é fundamental e faz um apelo para que haja mais intervenções governamentais e educação ambiental.

No início dos anos 80, Joás decidiu combater as chamas que destruíam as paisagens para dar lugar a plantações e pastos. Aos poucos, reuniu outras lideranças e com elas criou o Grupo Ambientalista de Palmeiras (GAP), que hoje é uma das ONGs mais representativas da região, com cadeira titular no Conselho Estadual de Meio Ambiente (CEPRAM) e representação no Conselho do Parque Nacional da Chapada Diamantina.

Escultura feita com material reciclável. Reprodução/ Redes sociais

 

O GAP cuida do monitoramento do Morro do Pai Inácio, participa da brigada de incêndios, organiza atividades de reflorestamento e de educação ambiental. Ele é um Ponto de Cultura e promove eventos socioambientais. Sobretudo, o GAP é um ator indispensável na gestão e transformação do lixo do município de Palmeiras. A equipe especializada no tratamento dos resíduos sólidos é formada por profissionais que conhecem a realidade atual dos lixões e aterros, e tem as competências necessárias para propor soluções sustentáveis que facilitam a coleta seletiva e a transformação do lixo.

A jornada de Iara com a biologia

Crescida em Lençóis, na Chapada Diamantina, a bióloga e pesquisadora, Iara Macêdo, sempre teve uma forte ligação com o meio ambiente, paixão que influenciou sua escolha profissional. “Eu sempre soube que eu queria ser bióloga, sempre soube que eu queria ser cientista, eu queria acrescentar algo pelas causas ambientais,” disse Iara.

Iara Macêdo. Reprodução / Redes sociais

 

Durante sua graduação na Universidade Federal da Bahia (UFBA), a jovem estudante realizou uma iniciação científica no laboratório de bentologia, propondo um estudo em Lençóis, para avaliar a quantidade da água no Rio Lençóis a partir dos macroinvertebrados bentônicos presentes.  “A gente avaliou a qualidade da água a partir desses bichinhos bem pequenininhos. E aí alguns deles já apontavam a qualidade da água por sessão,” descreveu.

 

O estudo revelou que, mesmo em áreas utilizadas para lavar roupas, a água do rio era de boa qualidade, e os resultados da pesquisa foram apresentados à comunidade local, destacando a importância de retornar à comunidade os conhecimentos adquiridos.

Biologa Iara Macêdo em pesquisa de campo, Reprodução / Redes sociais

 

Iara voltou a Salvador para realizar o mestrado, o projeto visa avaliar a sazonalidade das queimadas através de uma revisão temporal, correlacionando a ocorrência de focos de calor com eventos climáticos, como o El Niño. O estudo abrange não só o Parque Nacional da Chapada Diamantina, mas também os municípios adjacentes, buscando compreender as mudanças no regime de fogo da região.

 

Joás Brandão com uma cobra caninana do papo amarelo
Joás Brandão salvando uma cobra. Reprodução/ Redes sociais

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