95% dos abacates consumidos hoje são da variedade Hass, que começou a ser produzida em grande escala após plantação inesperada.
Quando Rudolph Hass ia cavar a terra para tirar aquele pequeno abacateiro que havia plantado em sua horta porque não servia para nada, o convenceram a não fazer isso.
Era final da década de 1920. Ele havia chegado a Pasadena, nos arredores de Los Angeles, em setembro de 1923 com a esposa Elizabeth e a filha de 18 meses, Betty. Parte da família, que já havia se estabelecido na área, os incentivou a se mudar para a região.
Eles percorreram 3.300 quilômetros de sua terra natal, Milwaukee, no norte dos Estados Unidos, em uma viagem complicada a bordo de um velho Ford T que Rudolph comprou de um colega de trabalho em 1920 por US$ 75 e que chegou ao sudoeste do país sem o para-choque traseiro e com um pneu furado.
Na Califórnia, Rudie, como era chamado, primeiro conseguiu um emprego em uma barraca de frutas e verduras, depois foi vendedor de um fabricante de meias, roupas íntimas e acessórios. Ele também vendeu máquinas de lavar e aspiradores de pó, até ser contratado como carteiro pelo correio de Pasadena.
Isso aconteceu, segundo as anotações de sua esposa, em 1926. Mas o texto com essa data foi escrito décadas depois e outros dados nele incluídos não coincidem exatamente com a documentação que comprova o vínculo empregatício.
Uma árvore de dinheiro
Um dia, enquanto entregava correspondências, Rudie viu um anúncio em uma revista sobre um terreno com abacateiros no qual havia notas de dólares penduradas, segundo a versão de Elizabeth.
Gina Rose Kimball, historiadora do abacate Hass, acredita que aquele anúncio provavelmente tinha uma sacola com o símbolo de dólares e uma dessas frutas ao lado, em vez de uma árvore de dinheiro.
A Califórnia, que não teve plantações de abacate enquanto era território mexicano, começou timidamente a cultivá-los quando, na década de 1870, três mudas trazidas do México foram plantadas em Santa Bárbara; meio século depois, o abacateiro passou a ser promovido como um promissor negócio no estado.
Rudie ficou entusiasmado e, quando conseguiu vender uma propriedade que tinha perto de Milwaukee, pegou o dinheiro, pediu outra parte emprestada a uma irmã e foi ao escritório do empresário de Los Angeles que havia feito o anúncio.
Rudolph Hass e sua esposa Elizabeth em frente à árvore mãe do abacate Hass. Eles se conheceram em 1918 em uma igreja e se casaram no ano seguinte, quando ele tinha 27 anos e ela 19 — Foto: Família Hass/Via BBC
Era Edwin Hart, que conheceu o abacate no México no final do século XIX e em 1919 comprou a fazenda La Habra, de cerca de 1.500 hectares nos arredores de Los Angeles e não muito longe de Pasadena, para plantar essa fruta e depois vender lotes.
Rudie comprou um terreno de 7.800 metros quadrados que já tinha alguns abacateiros naquela área rural, que então havia sido rebatizada de La Habra Heights. Ele concordou em pagar US$ 3.800 em parcelas trimestrais. O depósito inicial foi de US$ 760.
“Quando ele comprou, queria cultivar uma variedade diferente, possivelmente Lyon”, diz Kimball. Essa é uma variedade guatemalteca – de grande e de pele dura – que um homem chamado Lyon plantou em Hollywood no início dos anos 1900 e que em seus primeiros anos parecia a mais promissora. O comum na Califórnia naquela época era os donos das plantações de abacate colocarem seu sobrenome em cada nova variedade da fruta.
Por BBC