A maternidade é uma das decisões mais importantes da vida e deve ser tomada com responsabilidade; assunto é abordado na trama das sete
O tema surgiu na novela de maior sucesso do momento, elogiada por sua qualidade e por tocar em vários assuntos importantes: “Vai na fé’’, da Globo, escrita por Rosane Svartman. A personagem Lumiar (Carolina Dieckmann) confessou ao então marido Ben (Samuel de Assis) que não deseja e nunca desejou ter filhos. Em cena recente, com os dois já separados e conversando civilizadamente, ela expôs como essa decisão tomada por uma mulher ainda hoje gera tantos questionamentos e especulações por parte dos outros. Uma verdade! Uma incômoda realidade.
Entre os comentários, posso listar os mais corriqueiros: “Tem algum problema de saúde’’, “É uma pessoa egoísta’’, “Nunca vai saber o que é a realização completa’’, “Não vai experimentar esse amor incondicional’’ e… “Vai ficar velha sem ninguém pra cuidar de você’’. Se em pleno 2023 essas ponderações são comumente feitas sem constrangimento por tantos, a mim soam inconvenientes, até absurdas, para não dizer ignorantes. Porque sobre esse assunto eu tenho — como exigem atualmente, para podermos dar nossa opinião — lugar de fala.
Historicamente, a maternidade sempre foi vista como natural para toda mulher. Socialmente, como uma missão, seu papel principal a ser exercido. A sociedade evolui, mas por questões que ficam arraigadas, sugestionadas pelo modo como fomos criados ou por influências culturais e religiosas, há uma dificuldade em se aceitar que ter um filho possa ser uma opção, e não uma obrigação ou imposição.
Essa discussão não deveria ainda ser um tabu, visto que é uma decisão individual e geralmente tomada com responsabilidade, ou após muita reflexão. Inúmeras vezes, vale a pena dizer, não tem nada a ver com o fato de gostar ou não de crianças. Eu, por exemplo, adoro. Tenho interesse por muito do que cerca o universo infantil, acho admirável acompanhar o desenvolvimento de um serzinho, ir notando as suas descobertas… Mas escolhi não ter filhos. E é muito bom poder fazer escolhas conscientes.
Ilustração maternidade é uma escolha — Foto: Luiza Erthal
Por ser mulher, consequentemente falo mais aqui daquelas que não querem ser mães. Há pouco tempo, no entanto, o apresentador Fábio Porchat também manifestou publicamente sua resolução de não ser pai, o que teria sido o principal motivo do fim de seu casamento com a produtora Nataly Mega, já que ela alimenta a vontade de ter herdeiros. Imagino o quanto foi difícil e dolorosa essa decisão para ele. Mas, ao meu modo de ver, a mais justa. E o que não deixou de ser uma tremenda prova de amor, a partir do momento em que Porchat constatou que, com ele, Nataly não poderia realizar esse grande sonho.
Fazem inúmeras perguntas aos que não querem ter filhos. Mas questiona-se quem os tem sem pensar? Não é temeroso você resumir sua realização pessoal a um outro alguém? Um herdeiro deve completar a sua felicidade, mas não ser a única razão dela.
A dedicação dada à criança que você tem hoje em casa não vai virar cobrança quando ele se tornar um adulto amanhã? Porque os projetos de vida dele provavelmente serão diferentes dos seus. E, por mais que um filho ame pai e mãe, se tudo der certo, ele vai crescer e voar, construindo sua própria história.
Dá pra ser feliz sem ter filhos. O que não não dá é pra ter filho e depois não querer cuidar e orientar de modo consciente. O que não dá é pra ter filho pra mostrar uma ‘‘família margarina’’ nas redes sociais enquanto dentro de casa o projeto de lar é inexistente. O que não dá é pra ter filho esperando ter um cuidador garantido no futuro. O que não dá é pra projetar que seus rebentos realizem os sonhos que você não realizou.
A gente pensa antes de fazer inúmeras escolhas na vida. Ser mãe ou pai talvez seja a mais importante delas. Não se obriguem. Escolham de modo sensato, para estarem plenos com essa decisão ou para ver os filhos se desenvolvendo com liberdade, caso queiram tê-los.
Por Gabriela Germano — Rio de Janeiro