Quem quiser uma experiência de imersão pode aproveitar as ‘tiny houses’ que as vinícolas da região oferecem (Paula Theotonio) Charmosa e aconchegante, a cidade de Morro do Chapéu (BA) pode até não transparecer em seu pacato dia-a-dia, mas vive um momento de ebulição turística. São pelo menos 200 pessoas por semana visitando o município para fins de turismo e, durante feriados e eventos, como a Feira Agropecuária e o Festival de Inverno, esse número chega a dobrar. Os dados são da Associação Empresarial do Agroturismo de Morro do Chapéu (Agrotur).
E não tinha como ser diferente: Morro é abundante em atrativos; que vão desde o próprio clima ameno até as opções em turismo arqueológico, ecoturismo e, principalmente, o enoturismo.
O vinho morrense é, inclusive, parte da Rota Sensorial de Morro do Chapéu – BA, criada pela Agrotur com apoio do SEBRAE Bahia. A iniciativa privada estimula a exploração da região através dos sentidos e agrega, ainda, empresas que atuam com em diversos segmentos: queijos artesanais, embutidos e defumados, alimentos orgânicos, flores, rosas, cactos, rosas do deserto e óleos essenciais.
De acordo com Jairo Vaz, que é presidente da Agrotur, agrônomo e fundador da Vinícola Vaz, uma nova empresa de vinhos está prestes a iniciar sua operação e há um novo investimento enológico chegando nos próximos anos. “Precisamos com urgência melhorar nossa estrutura com empreendimentos de hotelaria e restaurantes, pois nossos cerca de 200 leitos nem sempre são suficientes para a atender à demanda”, comenta
Com a procura aquecida, as três vinícolas em operação estão investindo na melhoria contínua de sua produção e também na criação de hospedagens e experiências para driblar a pouca oferta.
Situada a 14 km do centro do município, a Reconvexo finaliza na próxima semana sua segunda tiny house em frente aos seus vinhedos. Inspiradas na tendência do glamping, ou acampamento de luxo, trata-se de um tipo de chalé feito em madeira com estrutura de cama, banheiro com chuveiro elétrico, cozinha equipada e calefator para dias frios. Os hóspedes têm acesso ao wine garden da vinícola e podem usufruir de toda estrutura disponível. A reserva pode ser feita diretamente via AirBNB ou Booking.
Mais próxima ao centro da cidade, a Vinícola VAZ está finalizando o primeiro de 12 chalés também em madeira, mas em formato de barril de carvalho. O plano, de acordo com Jairo Vaz, é abrir ao público a partir de 1º de julho.
Ele conta, ainda, que em parceria com a Luvison Equipamentos, será construída uma estrutura vinícola que servirá não apenas para vinificar seus próprios produtos, mas para prestar serviços de elaboração e envase de vinhos e espumantes para toda a região. “Nossa previsão é de iniciar as operações já na safra de inverno de 2024”, compartilha.
Morro do Chapéu também carece de mão-de-obra para atuar nesses empreendimentos. Com cerca de 30 mil habitantes e distante cerca de 400 km do curso superior de Viticultura e Enologia mais próximo (disponível no Instituto Federal do Sertão de Pernambuco, em Petrolina – PE), a solução tem sido não apenas contratar profissionais de outras regiões, como formar a própria população com cursos livres.
A Reconvexo, por exemplo, está realizando a segunda turma do curso de Introdução à Viticultura e Enologia, com aulas ministradas pelos proprietários e parceiros de outras regiões. “Temos 30 vagas e recebemos 62 inscrições de várias comunidades da região. As aulas já começam no dia 27/05”, conta Rafael Bezerra, um dos sócios da empresa.
O terroir e os vinhos de Morro do Chapéu A produção de vinhos em Morro do Chapéu teve início em 2011, quando foram plantadas as primeiras videiras onde hoje é a Vinícola Santa Maria. O projeto experimental, que inicialmente avaliou a adaptação de 10 variedades da espécie Vitis vinifera na região, foi fruto de uma parceria entre diversas instituições e perdurou até o início de 2019.
Foram elas: a Associação dos Criadores e Produtores de Morro do Chapéu, Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Reforma Agrária, Pesca e Aquicultura (Seagri-BA), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A. (EBDA) e Secretaria Municipal da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária.
Descobriu-se, então, que a cidade tem potencial para produção de grandes vinhos. A latitude é baixa (11° S), mas sua altitude média de 1.100 metros garante um clima temperado e boa amplitude térmica ao longo de todo o ano. Em condições normais, os invernos são relativamente frios e secos; e os verões úmidos, mas com noites frescas. Os solos apresentam uma acidez mais elevada, a qual tem sido manejada com outras culturas.
As uvas tintas Syrah e Malbec e as brancas Muscat à Petit Grains e Sauvignon Blanc vêm apresentando um excelente desempenho ao longo dos anos. Os vinhos produzidos atualmente são saborosos, com acidez média alta, excelente cor e um perfil bastante jovem. Os produtores estimam que com o retorno do fenômeno El Niño, que aumentará a insolação e deixará o tempo mais seco, as condições de produção fiquem ainda mais favoráveis e haja um salto na produção e qualidade nos próximos anos.
Conheça as vinícolas de Morro do Chapéu ● Vinícola Reconvexo (Passagem Velha Zona rural, Morro do Chapéu) Três engenheiros apaixonados por vinho decidiram investir nessa nova fronteira vitivinícola do Brasil e abriram a Reconvexo em 2019. João Carlos Ramos, Rafael Bezerra e Murilo Nogueira montaram uma estrutura encantadora e de pegada sustentável; com energia solar, biodigestores e acompanhamento meteorológico próprio. São diversas as opções em enoturismo, entre elas: Consumação Mínima (R$ 20), que permite curtir o wine garden da vinícola e as opções em vinhos, hidroméis, meloméis e queijos; e o Tour com Degustação (R$ 70/pessoa); que além do acesso ao wine garden inclui caminhada pelo parreiral, explicação sobre o processo produtivo na cantina e na cave; e degustação de 2 vinhos, com direito a taça personalizada de brinde. Além, claro, da Hospedagem na Tiny House (R$ 221/diária), que dá acesso ao wine garden da vinícola. Aos finais de semana há opções para almoço a la carte, com entradas, pratos principais e sobremesas elaboradas pelo Chef Lino. O funcionamento é de terça a domingo, das 10h às 12h e das 14h às 18h. Agendamentos são feitos pelo site www.vinicolareconvexo.com.br. O que beber: Vila do Ventura Malbec & Syrah (R$ 90).
● Vinícola Santa Maria: A Santa Maria é a vinícola mais próxima do centro da cidade e foi fundada após o final do projeto experimental, no segundo semestre de 2019. O visitante é recebido pela sócia-proprietária e vinhateira Laura Garcia, que apresenta a história da vinícola e tudo sobre a elaboração dos vinhos em meio aos vinhedos mais antigos da cidade. A degustação é feita ao lado da capela que fica dentro da vinícola, chamada Capella Santa Maria do Ouro. A degustação de 01 rótulo custa R$ 50/pessoa e degustação de dois rótulos harmonizados com tábua de queijos, grissinis e geleias custa R$ 100/pessoa. Os tours podem ser feitos de quinta a domingo, em horário comercial, e têm duração média de 1h. O agendamento pode ser feito pelo WhatsApp 74 99922-2905. O que provar: Santa Maria Malbec (R$ 70)
Vinícola VAZ: Fundada por Jairo Vaz, um dos responsáveis pelo projeto experimental vitivinícola em Morro do Chapéu, a vinícola já teve vinhos premiados durante a 9ª edição da Grande Prova Vinhos do Brasil (GPVB). O acesso aos vinhedos e à loja são gratuitos e podem ser feitos de terça a domingo, das 9h às 12h e 13h30 às 18h. Para visitações à estrutura da vinícola e ao vinhedo com degustação guiada, há duas opções: O Tour Ferro Doido (R$ 60/pessoa), com degustação de dois rótulos; e o Tour VAZ Premium (R$ 120/pessoa), que inclui ainda atendimento personalizado limitado a 4 casais (8 pessoas), visita à adega subterrânea e degustação de quatro rótulos. O agendamento pode ser feito através do WhatsApp 74 99986-3316. O que provar: VAZ Pinot Noir (R$ 69).
Como chegar A partir de Salvador são 395 km. O trajeto passa através da BR 324 e BA 052 e pode ser feito em cerca de 5h.