Desde domingo (3), dezessete moradores foram feitos reféns e mais de 15 armas apreendidas. Secretário de Segurança Pública culpa facções criminosas.
As diversas trocas de tiros e ações com 17 reféns têm feito moradores do bairro do Alto das Pombas, em Salvador deixarem as suas casas. Desde domingo (3), 11 pessoas foram mortas em confronto com a Polícia Militar e oito foram presas no Alto das Pombas e Calabar, bairro vizinho. Mais de 15 armas foram apreendidas.
- ‘A gente não tem direito de ficar em casa’, diz morador após intensa troca de tiros em Salvador
Os registros de tiroteios intensos começaram na noite de domingo, na região do Alto das Pombas e seguiram no bairro vizinho, Calabar, ao longo da segunda (4) e terça-feira (5).
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Policiamento foi reforçado na região do Alto das Pombas — Foto: Reprodução/TV Bahia
A noite de terça e a madrugada de quarta (6) foram marcadas por tiroteios em outrso dois bairros da capital baiana: Engenho Velho de Brotas e Nordeste de Amaralina.
Com os últimos registros, o balanço da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) entre segunda e quarta-feira é de:
- 11 pessoas mortas
- 8 pessoas presas
- 4 ações com 17 reféns, que foram liberados sem ferimentos
- Apreensão de 6 fuzis, 11 pistolas e 3 granadas
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Coronel Paulo Coutinho e secretario Marcelo Werner, da SSP da Bahia — Foto: NAtally Aciolly/g1
Segundo a PM, todas as mortes contabilizadas são de pessoas que tinham envolvimento com facções criminosas.
A violência na capital é, inclusive, atribuída ao crescimento desses grupos, segundo o Secretário de Segurança Pública, Marcelo Werner. A declaração foi dada em coletiva, após reunião com da cúpula da Segurança Pública com o governador Jerônimo Rodrigues.
Na quarta-feira, o secretário faltou os debates na Assembleia Legislativa do estado para prestar esclarecimentos aos deputados estaduais que formam a Comissão de Direitos Humanos e Segurança Pública na Alba. Marcelo Werner é aguardado deste março na casa legislativa.
Sobre a onda de violência na cidade, em nota, a SSP-BA informou que mantém as ações de inteligência e repressão qualificada em todas as localidades onde houve registros de tiroteios ao longo desta semana.
Escolas fechadas
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Escola do Calabar ficou fechada na terça-feira e quarta — Foto: Reprodução TV Bahia
Devido as intensas trocas de tiros ao longo da semana, alguns mercados e padarias da região do Alto das Pombas e do Calabar estão fechados ou funcionam em horário reduzido.
As escolas da região estão sem funcionar desde segunda-feira. Segundo a Secretaria Municipal da Educação (Smed), 1.511 estudantes das escolas municipais tiveram as atividades suspensas.
A administração da Universidade Federal da Bahia (Ufba) também suspendeu as aulas nos campi de Ondina, Federação, São Lázaro e Canela na segunda-feira. Na terça e quarta, as atividades administrativas foram mantidas.
Na área da saúde, dois postos do bairro tiveram os atendimentos interrompidos: a Unidade de Saúde da Família (USF) Calabar e a Unidade de Saúde da Família (USF) Alto das Pombas. Os serviços foram retomados na manhã de terça e suspensos durante a tarde.
Alto das Pombas
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Moradores da região do Alto das Pombas vivem clima de tensão após troca de tiros — Foto: Reprodução/TV Bahia
O Alto das Pombas é vizinho ao Calabar e a outros bairros da capital baiana como Federação e a Graça, área nobre da cidade. O nome do bairro é uma homenagem a muitos caçadores que procuravam o local, que fica na parte alta da cidade, para capturar aves – pombos, principalmente.
O bairro tem entrada única para carros e as demais vias, bem estreitas, possuem saídas para o Calabar apenas para pedestres.
O Alto das Pombas é conhecido por ser um espaço de mobilização política das entidades comunitárias e por preservar a cultura baiana com pequenos restaurantes e rodas de samba. Lá está o famoso restaurante de Dadá, uma das mais famosas cozinheiras da Bahia.
O Alto das Pombas também é conhecido por ser vizinho ao Campo Santo, maior e mais antigo cemitério de Salvador, fundado no ano de 1834.
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Policiamento é reforçado na região do Cemitério Campo Santo, em Salvador — Foto: Rildo de Jesus/TV Bahia
Os conflitos têm se tornado cada vez mais constantes na localidade. Em janeiro, um homem foi morto durante um tiroteio entre membros de facções criminosas rivais, durante uma disputa de território para o tráfico de drogas.
No dia 16 de junho, a comunidade também passou por momentos de terror durante a madrugada. Um homem foi baleado e outro foi executado dentro do Cemitério Campo Santo. Na ocasião, a população acionou a Polícia Militar, que ocupou as principais ruas dos bairros e fez rondas para tentar localizar os suspeitos, mas ninguém foi preso.
Duas semanas depois, um tiroteio entre traficantes de facções criminosas rivais assustou os moradores do Alto das Pombas, e terminou com um homem morto e quatro pessoas feridas.
Resistência no Calabar
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Bairro do Calabar, em Salvador, durante operação policial — Foto: SSP-BA
Próximo ao Alto das Pombas, o bairro do Calabar foi formado por pessoas que mostraram a resistência do povo negro e se organizaram para permanecer em uma área considerada nobre.
Historiadores apontam que escravizados oriundos de uma antiga região africana chamada Kalabari, onde atualmente está a Nigéria, se refugiaram e construíram no local o Quilombo dos Kalabar, onde hoje está o bairro do Calabar.
A partir do final dos anos 60, o local registrou grande crescimento com a chegada de imigrantes da zona rural, além de famílias inteiras expulsas de outros locais da cidade pelo poder público. Neste momento, ocorre o fortalecimento da organização popular para reivindicação de direitos básicos, como moradia, saúde, educação. Um dos destaques nesta atuação é o grupo de Jovens Unidos do Calabar (JUC).
Além do Alto das Pombas, o Calabar está localizado áreas valorizadas, como a Avenida Centenário e os bairros Jardim Apipema e Ondina – que tem o principal circuito do carnaval de Salvador.
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Capsulas de balas após troca de tiros no Calabar em junho — Foto: Reprodução/TV Bahia
Assim como o vizinho Alto das Pombas, o Calabar tem um extenso histórico de violência em 2023. Em fevereiro deste ano, um tiroteio durante a madrugada assustou moradores e horas depois, mandados de busca e apreensão contra suspeitos de tráfico de drogas foram cumpridos.
Em abril, um vendedor de polpas de frutas foi baleado enquanto voltava para casa. No local, acontecia um confronto entre policiais militares e suspeitos, segundo testemunhas.
Cerca de um mês depois, dois suspeitos de tráfico de drogas morreram após um novo confronto. Em junho, um outro homem não resistiu aos ferimentos depois de trocar tiros com PMs no bairro.
g1
