Imagem: Cigarro eletrônico De utilização gratuita pixabay
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Cigarro eletrônico preocupa: tabagismo mata 443 pessoas por dia no Brasil

Somente este ano, o Instituto prevê no país mais de 14 mil novos casos de câncer em mulheres e 18 mil em homens

Por: Hieros Vasconcelos

Considerada a maior causa de doenças e mortes prematuras no mundo, o tabagismo vem sendo há décadas considerado um grave problema de saúde pública por matar cerca 8 milhões de pessoas por ano no planeta: o que significa uma morte a cada oito segundos. No Brasil, estima-se que 12,6% da população seja fumante, ou seja, 20 milhões de pessoas conforme dados da Pesquisa Nacional de Saúde mais recente, de 2019. A preocupação é que a realidade em 2024 fique pior com a chegada em peso do cigarro eletrônico entre crianças, adolescentes e jovens.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), atualmente o consumo de tabaco no Brasil mata cerca de 443 pessoas no Brasil por dia, ou seja, 161.695 pessoas por ano. Além disso, o cigarro é responsável por 90% das mortes por câncer de pulmão em homens e mulheres, mas também pode desencadear câncer em uma dezena de órgãos, além da leucemia mielóide aguda, conforme o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Somente este ano, o Instituto prevê no país mais de 14 mil novos casos de câncer em mulheres e 18 mil em homens.

Hoje, 29 de agosto, acontece a campanha do Dia Nacional de Combate ao Fumo 2024. Dentre os objetivos está o de conscientizar a população para os males e atrasos que o tabagismo traz para o Brasil. Se o padrão de comportamento do fumante se mantiver, a Fundação do Câncer estima aumento de mais de 65% na incidência da doença e 74% na mortalidade por câncer de pulmão até 2040.

Só com o câncer de pulmão, os custos da saúde pública são exorbitantes e chegam a R$ 9 bilhões com tratamento, perda de produtividade e outros cuidados com os pacientes. Enquanto isso, os impostos pagos pela indústria do tabaco cobrem apenas 10% dos cerca de R$ 125 bilhões de custos estimados por ano, considerando todas as doenças relacionadas ao consumo do tabaco.

Na Bahia, a Sesab informou que “por não ser uma condição de notificação obrigatória, não temos dados referentes ao número de fumantes. Quanto a doenças relacionadas, também não temos como identificar, por exemplo, se um caso de doença pulmonar foi causado pelo tabagismo ou por outras causas”.

Diante da preocupação, chama atenção das instituições e organizações que lidam com o problema o fato de que, mesmo sendo totalmente tratável, a redução de fumantes ainda não alcançou um patamar razoável. É pensando em reverter o problema surge a campanha.. Este ano, o tema é “Tabagismo: os danos para a gestante e para o bebê”. A escolha se deu após pesquisas nacionais conduzidas com adolescentes brasileiros levantarem o aumento da iniciação ao tabagismo, principalmente entre as meninas.

Embora mais prevalente nos homens (15,9%), as mulheres brasileiras têm fumado bastante (9,2%) e com isso sofrem não só ela, como o bebê, em caso de gestação. Os malefícios são diversos: parto prematuro, nascer com baixo peso, malformações congênitas e síndrome da morte súbita ao nascer.

Além das vítimas diretas, no mundo, 1,3 milhão morrem devido ao tabagismo passivo, mais popularmente conhecido como “fumante passivo”. As consequências do ato de fumar também reverberam em outras partes do corpo, mesmo que não provoque câncer.

De acordo com Alfred Scaff, epidemiologista e consultor médico da Fundação do Câncer, o tabagismo para além do câncer de pulmão, leva à destruição dos dentes, lesões de orofaringe, enfisema [doença pulmonar obstrutiva crônica], hipertensão arterial, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral [AVC] ou derrame.

“Ele causa uma quantidade enorme de outras doenças que elevam esses valores significativos de gastos do setor público diretamente, tratando as pessoas, e indiretos, como perda de produtividade, de previdência, com aposentadorias precoces por conta disso, e assim por diante”, afirma Alfredo Scaff à Agência Brasil.

Ações na Bahia – A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) informou que o órgão realizará uma qualificação para profissionais de saúde hoje, em evento fechado com o objetivo de incrementar o atendimento e o acolhimento nos municípios.

Cigarro eletrônico pior que o normal, afirmam especialistas

Todo mundo conhece alguma pessoa que já morreu de câncer de pulmão ou consequências derivadas do tabagismo. “Ali fumava demais’, costumam resumir sobre a causa da morte. Além de câncer de todos os tipos, como de bexiga; de pâncreas; colo do útero; de laringe (cordas vocais); e na boca, o tabagismo está associado a doenças crônicas não transmissíveis como tuberculose, infecções respiratórias, úlcera gastrintestinal, impotência sexual, infertilidade em mulheres e homens, osteoporose, catarata, entre outras.

Nesse cenário perigoso, o que tem mais se visto são pessoas com cigarros eletrônicos. proibido no Brasil, o produto é vendido corriqueiramente em diversos lugares, como lojas físicas, virtuais e até mesmo no camelô. São, especificamente, chamados de Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs), como os cigarros eletrônicos, vapes e pods.

O temor dos especialistas de que o tabagismo aumente se dá justamente pela venda irrestrita desses produtos e pelo aumento do uso por adolescentes. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar do Ministério da Saúde (MS), 2,3% da população brasileira faz uso dos cigarros eletrônicos. Dos alunos entre 13 a 17 anos, 6,8% já experimentaram o cigarro eletrônico e 80% dos jovens entre 18 e 34 anos já consumiram cigarros eletrônicos ao menos uma vez.

O epidemiologista do Instituto do Câncer, Alfredo Scaff, afirma à Agência Brasil que o cigarro eletrônico poderá contribuir para aumentar ainda mais o percentual de óbitos do câncer de pulmão provocados pelo tabagismo. “O cigarro eletrônico é uma forma de introduzir a juventude no hábito de fumar.” O epidemiologista lembrou que a nicotina é, dentre as drogas lícitas, a mais viciante. O consultor da Fundação do Câncer destacou que a ideia de usar cigarro eletrônico para parar de fumar é muito controvertida porque, na maioria dos casos, acaba levando ao vício de fumar. “E vai levar, sem dúvida, ao desenvolvimento de cânceres e de outras doenças que a gente nem tinha.”

 

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