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‘Misericórdia’: Bethânia canta clássicos sem esquecer do Brasil que a faz chorar

Maria Bethânia não teme os dias 13. Para ela, eles não remetem ao azar, pois marcaram sua história até aqui. Neste dia 13 de fevereiro, sábado sem carnaval, a cantora fez um tributo à saudade, às memórias e ao futuro que parte. Falou do Brasil que a faz chorar, na esperança de um que a faça sorrir. “Qualquer amor já é um pouco de saúde”, falou, citando Guimarães Rosa, em sua estreia no mundo das lives, sobre um palco sem plateia.

Pela primeira vez em décadas, Bethânia não passou o dia 13 de fevereiro em Santo Amaro da Purificação, onde participa tradicionalmente de festividades religiosas nesta época do ano. Também não recebeu amigos, com os quais costuma brindar a sorte deste dia, em que estreou no Rio de Janeiro, em 1965, no show Opinião, e desfilou no enredo da Mangueira, que a homenageou no Carnaval de 2016. “Apesar das ruínas e da morte, a força dos meus sonhos é tão forte, que de tudo renasce a exaltação”, citou a poeta Sophia de Mello Breyner.

As ruínas das mortes da pandemia do coronavírus, da situação política e social do Brasil e a esperança de uma primavera que chegará – “mesmo que ninguém mais saiba seu nome”, trecho de um poema de Cecília Meirelles na voz de Bethânia – deram o tom do show. Vestida de branco, ela mesclou clássicos do seu repertório, como Olhos nos Olhos, com canções do novo álbum, intitulado 2 de junho, e entregou um show expressivo politicamente. “Eu quero vacina, respeito, verdade e misericórdia”, protestou, ainda no começo da apresentação.

A música Explode Coração, de Gonzaguinha, foi a escolhida para abrir a performance da baiana, que estava acompanhada por quatro músicos. A direção artística da live, transmitida pela Globoplay, foi de LP Simonetti, que assinou shows online de Caetano Veloso, Roberto Carlos, Paulinho da Viola e Ivete Sangalo. A live ficará disponível para assinantes do streaming da Globo.

“Penso no Brasil sem carnaval, sem o grande desfile, em Salvador, no Recife com suas ruas lindas e desertas. Vim a rigor de branco para festejar com os senhores. Eu sinto muita falta de vocês. É triste ficar longe”, compartilhou Bethânia, sem os aplausos, seu “fio condutor”.

A música que dá nome ao seu novo álbum, composição de Adriana Calcanhoto sobre a morte do menino Miguel, filho da empregada doméstica Mirtes Renata, foi um dos momentos mais emocionantes e comentados nas redes sociais. O menino morreu depois de cair do nono andar de um prédio de luxo no Recife, quando Mirtes acreditava que a patroa, Sari Corte Real, tomava conta dele.

“Cantada por Maria Bethânia, sobre algo que aconteceu a uns 2 kms daqui ouvir e ver hoje, me pegou de jeito”, escreveu o diretor Kleber Mendonça Filho, depois que Bethânia emendou a canção-homenagem com o Poema do Menino Jesus, de Fernando Pessoa. “Eu tive um sonho como uma fotografia/ Eu vi Jesus Cristo descer à Terra/Ele veio pela encosta de um monte/ Mas era outra vez menino, a correr e a rolar-se pela erva/ A arrancar flores para deitar fora, e a rir de modo/ A ouvir-se de longe/ Ele tinha fugido do céu”, declamou.

A apresentação, que durou pouco mais de uma hora, das 22h às 23h12, marcou os 56 anos de carreira da cantora. Além do irmão Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa já tinham se apresentado no formato de live. Bethânia resistia, mesmo depois de pedidos insistentes dos fãs.

“Sinto muita falta de vocês todos e sinto fundo. É triste ficar longe, eu não gosto. Mas tenho boa memória, o que garante a grandeza do nosso encontro. Obrigada a todos que confiam do meu canto”, agradeceu, depois de ceder aos pedidos.

Durante a mais de uma hora de apresentação, os comentários se voltaram para Bethânia, à vontade ao formato que demorou para aderir. Caetano Veloso, seu irmão, assistiu à live da cantora, que repetiu o casamento entre texto e música no show. A união de prosa, poesia e música é herança do diretor Fauzi Arap, quem ela considera um mestre.

O espectador e irmão Caetano foi homenageado pela irmã, que o dedicou a canção “Luminosidade”. “Eu quero dedicar essa canção que eu vou cantar ao meu irmão Caetano, e faço um pedido para Zeca, seu filho e meu sobrinho querido: Queria que o Zeca cantasse essa música”, disse a cantora.

A emoção ecoou nas redes sociais, de anônimos ou de famosos, como Daniela Mercury.

Correio24horas

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