A técnica de enfermagem Taíse Santos, de 35 anos, que morreu no sábado (29) enquanto aguardava transferência para um leito de UTI em Salvador, disse à sogra, antes de morrer, que queria deixar a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no bairro de San Martin, por conta própria para buscar atendimento em uma maternidade. Ela estava grávida do terceiro filho e deu entrada na sexta-feira (28) com falta de ar e pressão alta.
Na UPA, Taíse testou positivo para a Covid-19 e foi levada para a ala vermelha, onde aguardava por uma transferência para um leito de UTI. A vaga não surgiu pela Central Estadual de Regulação e o quadro se agravou. A mulher acabou não resistindo e morreu.
Antes, Taíse conversou com a sogra, Eliana Pereira, por mensagem de texto pelo telefone celular. A sogra perguntou se a bebê havia sido examinada e a mulher respondeu negativamente.
“Se eles não me entubarem hoje, amanhã vou pedir para sair por minha conta e vou para a maternidade. Toda hora ficam dizendo ‘ela veio para cá porque quis, é por conta dela'”, disse Taíse, a 1h15 de sábado.
Na manhã de sábado, Taíse foi atendida por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que realizou um parto de emergência para tentar salvar a vida do bebê. Eliana disse ter conversado com o médico do Samu, que ficou comovido com o que aconteceu.
“Eu, Eliana Pereira dos Santos, falei com o médico que atendeu ela, do Samu. Ele chorou. Você sabe o que é um médico chorar na frente de parentes de uma pessoa que foi a óbito?”, disse a sogra da mulher.
O marido de Taíse, Wilson Pereira, desabafou e disse que nenhuma pessoa vai a uma UPA em busca de lazer. Lamentou o que aconteceu e agradeceu a atenção dos profissionais do Samu, que conseguiram salvar o bebê.
“Ninguém vai para uma UPA com vontade própria procurar ajuda. Ali não é brinquedo de parquinho para ninguém ir lá passear. Se não fosse pelo médico do Samu, que chegou sábado de manhã e fez uma cesariana de emergência na minha esposa, minha filha Maria Isabel não estava viva nesse momento”, disse Wilson.
‘Morte evitável’
O profissional citado por Eliana é Uenderson Araújo, que atendeu a gestante na UPA e realizou o parto, antes de Eliana falecer. Ele disse que, quando chegou à unidade, a mulher já estava com “insuficiência respiratória e com uma saturação muito ruim”, sem conseguir manter um padrão para manter ela própria e o bebê vivos. Por isso optou em fazer o parto.
“Na iminência de ter sido intubada às pressas, ela teve uma parada cardíaca. Dois a quatro minutos depois da parada, eu optei por tirar o bebê”, contou Uenderson.
Emocionado, o profissional disse que a ocorrência deste plantão virou uma imagem que não saiu do seu pensamento e que era uma morte evitável. Em 16 anos do Samu em Salvador, este foi somente o quarto parto necessário ser feito de maneira urgente. E que, neste caso, acabou com a mãe não resistindo.
“Não sai da cabeça ainda. A imagem ficou durante o dia, na hora de dormir, no acordar. A morte era completamente evitável. Era uma paciente que só precisava de um leito de UTI naquele momento”, disse o médico.
O que dizem os responsáveis
O secretário estadual da Saúde, Fábio Vilas-Boas, disse que na manhã desta segunda-feira (31), ainda não tinha detalhes sobre a ocorrência, mas discordou do que disse o médico do Samu sobre a mulher ter morrido por falta de vagas de UTI. Segundo ele, pelo que foi narrado nos fatos, a gestante não foi intubada em tempo pelos profissionais da UPA.
“A gente tem que entender que as UPAs e as unidades de emergências possuem salas de estabilização com respiradores e toda infraestrutura que se tem dentro de uma UTI, inclusive os sedativos, para manter a pessoa em ventilação artificial até que ela seja removida para uma UTI.
A Secretaria Municipal da Saúde (SMS), responsável pela gestão da UPA de San Martin, explicou que a paciente já deu entrada na unidade com quadro gravíssimo. Por isso, foi feito “imediato pedido à central de regulação de transferência para maternidade de referência já que se tratava de uma gestante com Covid”.
O órgão disse ainda que, como o quadro se agravou, o Samu foi até a UPA e realizou manobras de reanimação cardíaca e, paralelamente o parto do bebê. A SMS lamentou o óbito de Taíse e ressaltou o empenho dos profissionais do Samu, que resultou no parto da criança, que foi levada para assistência especializada.
G1Bahia