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Construção de Rede Solidária na Preservação das Sementes Crioulas na Agricultura Familiar do Território de Irecê com participação UNEB, fez-se presente no projeto Resiliências Climáticas e alcançou comunidades tradicionais em Morro do Chapéu e outras cidades da Chapada Diamantina

Durante Formação em Análise de Dados Socioambientais, Projeto Resiliências
Climáticas – parceria entre COSPE e GAMBÁ, participa de troca de sementes crioulas,
incluindo sementes de milho e arroz de sequeiro.

Em entrevista, a Professora Maria Dorath Sodré relata a importância da
construção de redes para trocas de sementes crioulas para “qualidade do alimento a ser
produzido, do reconhecimento dos saberes dos agricultores, das condições biogenéticas da
fauna e flora adaptada ao ambiente específico, a biodiversidade e, especialmente, por permitir
ações que possam assegurar soberania e segurança alimentar”. As sementes crioulas são,
normalmente, fornecidas por agricultores familiares e, em seguida, é aplicado teste de
transgenia pela UNEB campus Irecê.

Durante a Formação em Análise e Gestão de Dados Socioambientais do Projeto Resiliências
Climáticas, as comunidades participantes do projeto, entre elas Ouricuri II, Passagem Velha,
Veredinha, receberam sementes crioulas da Rede Solidária. Como resposta, alguns dos
participantes forneceram novas sementes,perpetuando a troca para novos testes. A professora
ressalta que uma das características comuns da origem destas sementes é a ancestralidade,
pois, normalmente, os agricultores identificam seus pais e avós como responsáveis pelos
primeiros cultivos.


A troca de sementes crioulas é identificada pelo Resiliências Climáticas como uma boa prática,
respeitando o saber ancestral e a soberania alimentar. Para o projeto, “boas práticas trazem a
soma de aprendizados das memórias que formam o agora. Ou seja, elas conectam o que estou
vivendo agora com o que mudou”, comenta Rafael Freire, coordenador do projeto. É ainda
produto do projeto Resiliências Climáticas, o fortalecimento da capacidade de implementação
de boas práticas de adaptação às mudanças climáticas contextualizadas aos desafios
socioambientais dos biomas Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e área costeira, por parte dos
grupos vulneráveis.


Neste momento, as pessoas das comunidades estão colhendo o resultado das sementes
plantadas em outubro de 2022. Amostras das novas sementes serão novamente testadas para
continuidade do projeto.

Resiliências Climáticas é um projeto realizado em parceria por Cospe e Gambá, co-financiado
pela União Européia, com o objetivo de valorizar as boas práticas de adaptação à mudança do
clima em áreas costeiras e nos biomas Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga baianos.
Atualmente, o projeto está no seu segundo ano e finalizou recentemente a primeira fase de
formação. Para realização das atividades e operacionalização do projeto, as universidades
UNEB – Universidade do Estado da Bahia, UNIVASF – Universidade Federal do Vale do São
Francisco, UFRB – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, e UFOB – Universidade
Federal do Oeste da Bahia são parceiros locais, atuantes em cada território. Nos próximos
passos do projeto, estão previstos desenvolvimento de Planos Locais de Adaptação às
Mudanças Climáticas; formação para desenvolvimento e submissão de projetos; publicação
com mapeamento de boas práticas, entre outros.

Confira agora a entrevista completa:

COMO COMEÇOU A TROCA DE SEMENTES?


Prof Maria Dorath Sodré: Essas trocas de sementes começaram em 2021, quando da
pandemia não tínhamos atividades presenciais e eu estava trabalhando no projeto
Mapeamento de Sementes Crioulas no Território de Identidade de Irecê, através de entrevistas
aos agricultores, Ongs e instituições públicas que fazem parte do Comitê de Agroecologia do
Território de Identidade de Irecê – TII.


Nas entrevistas, ficamos sabendo da existência destas sementes e mais 20 casas de Semente,
construídas no TII, durante o projeto Cisterna.


Foi a partir de uma necessidade de preservar estas sementes que as trocas iniciaram.
Articulamos com os agricultores e agricultoras do Grupo Raízes do Sertão, que têm certificação
de conformidade orgânica e realizam as feiras de produtos orgânicos.


Construímos um outro projeto para atender estas novas propostas denominado de “Construção
de Rede Solidária na Preservação das Sementes Crioulas na Agricultura Familiar do TII”. Este
projeto foi aprovado no Edital da UNEB com a Pró-Reitoria de Extensão que possibilitou
comprar os testes de identificação de transgenia e promover as oficinas de troca de sementes.


A necessidade dos testes de identificação de trangenia era uma preocupação colocada pelos
agricultores e representantes das instituições e organizações do TII com a qualidade e
condições de suas sementes. O Grupo Raízes do Sertão já realizava esta testagem e a
Copirecê com vista a garantir milho não transgênico.


Foram promovidas oficinas de trocas entre estes agricultores e agricultoras durante as Feiras
de Orgânicos em Irecê, por reunir um maior número de agricultores e de vários municípios do
Território, permitindo alcançar por capilaridade agricultores de vários municípios.

Após reuniões e mobilizações com este grupo, conseguimos receber sementes de milho para
fazer os testes de identificação de transgenia e a doação de milho testado sem transgenia para
que outras famílias pudessem reproduzir e conservar estas sementes.


Nosso objetivo é identificar áreas que possam ser livres de transgenia, guardiãs destas
sementes. Para isto, entregamos sementes testadas e, pós colheita, testamos para
acompanhar a condição. Vamos testar o milho da colheita de 2023 produzida em Ouricuri na
expectativa que se mantenha Crioula podendo ampliar o número e áreas guardiãs dessas
sementes.


PORQUE AS SEMENTES CRIOULAS SÃO IMPORTANTES?


Nas sementes Crioulas se encontram parte fundamental da qualidade do alimento a ser
produzido, além do reconhecimento dos saberes dos agricultores, das condições biogenéticas
da fauna e da flora adaptada ao ambiente específico, bem como a própria biodiversidade. Em
especial, as sementes crioulas são importantes por permitir ações que possam assegurar
soberania e segurança alimentar.


São sementes adaptadas e desenvolvidas no processo das condições e contextos próprios
destas comunidades. Elas carregam uma história e resistência desenvolvidos ante processos
de produção agrícola e das condições naturais dessas comunidades.


A primeira semente que recebemos foi a de arroz. Produzida em condições de sequeiro, como
era realizado neste território de agricultura familiar antes do tri consórcio do feijão, milho e
mamona, com o projeto da agricultura moderna, objetivados à comercialização. Este arroz
branco, integral, foi conservado e mantido pela família Teodoro há 50 anos, em São Gabriel.

QUANTAS SEMENTES JÁ FORAM TROCADAS?


Não temos uma Casa de Sementes para conservação, as sementes que recebemos nós
fazemos doação. Por esse motivo, escolhemos conservar na própria roça do agricultor, um tipo
de conservação considerado in situ. Em nossos registros, já passaram mais de 100 tipos de
sementes doadas, incluindo sementes de milho, feijão, gergelim, alface, tomate, soja e muitas
outras.


COMO FUNCIONA O PROJETO DE TESTES DE TRANSGENIA?


São testes comprados de empresas que vendem no Brasil. Eles identificam organismos
geneticamente modificados. Fazemos os testes para sementes de milho e soja. Nós temos
identificado o perfil dos agricultores que nos procuram para fazer esses testes e são
agricultores que já cultivam e guardam essas sementes há muito tempo, que plantam as
sementes que eram do pai e do avô, e têm sido essa uma característica comum entre eles.


Aqui, em Irecê, a gente tem também uma outra instituição chamada COOPIRECÊ, que é uma
grande cooperativa de agricultores familiares e eles produzem diversos produtos a base de milho, sem transgenia. Os testes são feitos com agricultores que, em geral, querem vender a sua safra porque tem um preço, inclusive, diferenciado.


QUEM QUISER PARTICIPAR DESTA TROCA, COMO FAZ?


Normalmente nós distribuímos em eventos que envolvem os agricultores familiares.


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Esta publicação foi produzida com o apoio financeiro da União Europeia. Seu conteúdo é de
responsabilidade exclusiva do Gambá e da Cospe e não refletem necessariamente as opiniões da
União Européia.


Sobre as instituições:
Gambá – Grupo Ambientalista da Bahia
Organização Não Governamental que atua desde 1982 na Bahia. O foco está em projetos
de conservação de ecossistema, como reflorestamento de áreas, na formação da
cidadania e no monitoramento de políticas públicas.


Cospe – Cooperação para o Desenvolvimento dos Países Emergentes
Organização Não Governamental Italiana, fundada em 1983 e atuante em 24 países,
incluindo o Brasil. O foco está na busca pela a justiça social, em particular apoiando grupos marginalizados e discriminados em suas demandas por inclusão social, direitos
humanos e democracia.

Lívia Macêdo – Assessora de comunicação do projeto

Para maiores informações entre em contato (11) 98012 8824

 

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