A maioria das mães brasileiras é solteira, viúva ou divorciada (55% do total), enquanto 45% vivem com um companheiro ou companheira.
Os dados fazem parte de uma pesquisa do Datafolha, que apontou também que 69% das mulheres têm ao menos um filho e que a idade média de todas as mães do país é de 43 anos.
O levantamento ouviu mulheres acima de 16 anos em 126 cidades entre os dias 9 e 13 de janeiro deste ano. Foram realizadas 1.042 entrevistas, com margem de erro de três pontos percentuais.
A pesquisa mostra ainda que a probabilidade de uma mulher sem filhos ter estudado até o ensino superior é 112% maior do que na fatia de mães de crianças pequenas.
No total, 36% das mulheres sem filhos ingressaram na universidade, enquanto 9% estudaram apenas até o fundamental. Entre quem é mãe, 28% das mulheres com filhos até 12 anos têm o fundamental completo, número que vai a 42% entre as mães de jovens de 13 a 17 anos. Em ambos os grupos, só 17% das mulheres completaram o ensino superior.
Moradora da Brasilândia, na zona norte de São Paulo, Joseli de Oliveira Mota Santos, 50, abandonou os estudos quando estava no equivalente ao atual 6º ano do fundamental. Casada há 27 anos e mãe de três filhos –de 25, 23 e 18 anos–, ela na época foi trabalhar em uma fábrica de bolsas para ajudar a família.
“Eu não tinha caderno, não tinha folha de papel. Passei por algumas dificuldades e desanimei. Meus pais diziam que eu sentiria a falta dos estudos e eles estavam certos”, diz.
Mais tarde, teve vontade de retomar os estudos, mas nem sempre encontrava apoio. “Às vezes, meu marido me puxava para baixo e dizia ‘agora vai querer estudar?’, e isso me afetava”. Com 40 anos, Joseli decidiu fazer o Encceja (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos) para obter o certificado de conclusão do ensino fundamental. Depois, terminou o ensino médio.
Agora, ela se prepara para prestar vestibular para administração. “Ele [o marido] está todo orgulhoso, vê que eu estudo e estou interessada. Meus filhos também ficam felizes e me ajudam.”
A economista Cecilia Machado, professora da FGV e colunista da Folha, afirma que a pesquisa demonstra o impacto que as normas culturais têm na sociedade brasileira.
“Todos os cuidados dos filhos, por mais que compartilhados dentro de um casal, sabemos que não são equilibrados. Ao ver o desbalanceamento a nível nacional e no mercado de trabalho, esse peso segue recaindo sobre as mulheres”, diz.
Para ela, a realidade da maternidade é muito diferente para cada perfil. No caso das mães solo, por exemplo, é importante ter um lugar no qual possam deixar o filho durante o dia enquanto trabalham ou buscam um emprego.
“Falamos muito em licença maternidade, mas existe um grupo considerável de mulheres para o qual esses direitos não incidem. Para essas mulheres, a possibilidade de trabalhar não é nem porque ela não consegue um emprego, mas porque não tem com quem deixar a criança”, diz.
A pesquisa do Datafolha mostra que entre as mães solo, 18% estão desempregadas, proporção que cai para 8% entre as casadas ou com companheiro.
O levantamento aponta que a disparidade econômica é alta inclusive entre as mães mais recentes, que têm filhos de até 12 anos. Nesse grupo, 44% das mães solo vivem mensalmente com até R$ 1.212, valor referente ao antigo salário mínimo. Entre as casadas esse índice cai pela metade (21%).
Viviana Santiago, consultora em diversidade e inclusão, aponta que outro problema ligado ao tema é a naturalização da maternidade na adolescência. “Isso chega para elas quando ainda são meninas, em gravidezes que não foram planejadas, muitas vezes relacionadas com o fenômeno do casamento infantil no Brasil, que é uma violação de direitos”, diz.
Ela afirma ainda que muitas jovens são abandonadas no cuidado desses bebês, o que demonstra como a paternidade não é um lugar naturalizado para os homens. Isso também gera uma sobrecarga para elas tanto no cuidado do filho quanto na responsabilidade para sustentar a família, o que muitas vezes faz com que elas adiem outros projetos, como os estudos.
Foi isso que aconteceu com Iris Hora, 21, que foi mãe aos 16 anos. O relacionamento entre ela e o pai da criança terminou quando ela estava grávida de quatro meses, e ele só aceitou registrar a filha quando ela já tinha sete meses de vida.
Atualmente, ele deveria pagar R$ 200 por mês de pensão, mas nem sempre isso acontece.
Para conseguir cuidar da filha, Iris teve que procurar um emprego e mudar de escola. Conseguiu conciliar o trabalho com os estudos e finalizou o ensino médio, mas não teve como pagar a faculdade. “Era uma criança cuidando de outra criança.”
“No início foi bem difícil. Sofri bastante”, diz ela. “Minhas amigas saíam, eu não podia. Não podia gastar meu dinheiro para mim, precisava pensar nela. Tiveram vezes que ela ficou sem fralda e tive que pedir ajuda de outras pessoas.”
A situação agora melhorou e ela se prepara para ingressar na universidade no segundo semestre deste ano. “Quero ter uma renda melhor e trabalhar com o que gosto”.
Ela diz que seu sonho é que a filha aproveite a infância. “Espero que ela possa me falar sobre qualquer situação que esteja passando e me veja como amiga.”